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Grupo estuda como melhorar a assistência a pacientes de trauma

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Trabalhar o trauma de forma integrada na rede de saúde pública e melhorar a assistência aos pacientes do Distrito Federal, além de prevenir milhares de mortes por ano. Essa é a proposta que um grupo de trabalho estuda para implementação da Linha de Cuidado do Trauma no âmbito da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde e do IBGE apontam que o trauma é responsável, todos os anos, por cerca de 150 mil mortes e 500 mil sequelados. No Distrito Federal, estima-se que o trauma seja a causa de 1,5 mil a 2 mil mortes por ano

A ideia foi apresentada ao órgão pelo cirurgião de trauma do Hospital de Base e representante da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado no DF (SBAIT-DF), Rodrigo Caselli Belém. A proposta de criar um sistema de trauma inclusivo, abrangendo todo o DF, segundo o cirurgião, é uma das primeiras iniciativas nesse sentido no Brasil.

“É fundamental esse trabalho de revisão e proposição de uma Linha de Cuidado do Trauma para o DF. Para tanto, instituímos esse grupo de trabalho e contamos com a experiência de diversos profissionais para propor as mudanças necessárias para a viabilização de um sistema eficaz, capaz de dar pronta resposta e, ao mesmo tempo, racionalizar recursos. Tão logo o dr. Rodrigo Caselli nos apresentou a proposta, demos seguimento nas ações para oferecer mais esse avanço para a saúde”, destaca o secretário de Saúde, general Manoel Pafiadache.

Para o secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Fernando Erick Damasceno Moreira, a implementação dessa linha de cuidado é de grande relevância, pois assume o trauma como uma doença extremamente prevalente, com impacto significativo em toda a rede de atenção e que demanda urgência na resposta a uma situação que é muito presente no cotidiano da assistência à saúde.

Além da prevenção, a otimização do atendimento aos pacientes traumatizados, por meio da organização de um sistema de trauma, pode reduzir significativamente o número de mortes e sequelas | Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF

“Temos também a noção do quanto isso implica carga de doença para a sociedade, todas as sequelas, necessidade de reabilitação e de recuperação da saúde. Então conseguirmos olhar e concentrar esforços, melhorar estratégias, dinamizar melhor a rede com vistas a uma articulação entre os níveis de atenção para responder melhor ao trauma trará resultados relevantes e que vão propiciar melhor qualidade de vida para muita gente”, acredita Fernando.

Grupo de trabalho

O grupo trabalha para discutir, definir e apoiar a reestruturação de centros de trauma e promover a organização dos serviços. Além disso, o GT tem como competência propor estratégias para registro e monitoramento de informações que se relacionam à Linha de Cuidado de Trauma.

O grupo se reúne semanalmente durante o período de desenvolvimento do trabalho, tendo cada encontro duração de seis horas. A previsão para conclusão dos trabalhos e entrega do projeto é de até 60 dias. Desde setembro, o GT tem se debruçado nos estudos sobre o tema.

Caselli, que preside o grupo, explica que primeiro iniciou-se o levantamento dos dados para entender o que existe hoje em relação à morbimortalidade por trauma na população do Distrito Federal. Os dados são mapeados a partir das informações dos hospitais, do Instituto Médico Legal (IML), do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Corpo de Bombeiros.

“A linha de cuidado ao trauma é um serviço especializado que precisa olhar para todas as etapas da recuperação do paciente. Não basta salvar vidas, precisamos que o paciente retorne à sua vida o mais próximo do normal”Rodrigo Caselli Belém, representante da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado no DF

“A seguir, mapeamos o que temos efetivamente oferecido na parte assistencial ao paciente traumatizado. Analisamos os serviços pré-hospitalares e hospitalares. E não só os serviços médicos e de enfermagem, mas principalmente a rede de apoio a esse paciente, integrada pela psicologia, fisioterapia e assistência social, por exemplo. A ideia é verificar a situação desses serviços”, pontua.

Com os dados e as análises, o médico aponta que o próximo passo é avaliar o nível de adequação desses serviços aos referenciais teóricos e legais sobre o tema. “Estamos fazendo esse diagnóstico situacional: como estamos no DF em relação ao atendimento ao trauma, o que temos e o que não temos, quais serviços funcionam e quais não funcionam – e entender o motivo de não funcionar. A partir disso, construir a proposta de um modelo de assistência ao paciente traumatizado, baseado em experiências e modelos utilizados internacionalmente”, ressalta.

Com vistas a compartilhar experiências e promover interlocução entre projetos, participam do GT como convidados o cirurgião de trauma, Milton Steinman, do Hospital Albert Einstein de São Paulo, coordenador do Comitê de Sistemas de Trauma da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT) e o cirurgião de trauma, Gustavo Fraga, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e representante do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV).

Trabalho multidisciplinar

A composição do GT é multidisciplinar e, segundo Caselli, é fundamental que o trabalho envolva as diversas áreas que atuam na assistência ao paciente que sofre algum trauma. “O atendimento ao trauma é multiprofissional, envolve diversas áreas. Quando falamos em atendimento ao trauma, temos que falar em prevenção, assistência e reabilitação, ou seja, ter um olhar integral para o paciente. A linha de cuidado ao trauma é uma linha de cuidado específica, é um serviço especializado que precisa olhar para todas as etapas da recuperação do paciente. Não basta salvar vidas, precisamos que o paciente retorne à sua vida o mais próximo do normal”, reforça.

Linha de Cuidado do Trauma

A ideia é que a proposta apresente quatro frentes importantes a serem trabalhadas. A primeira seria a criação de um Comitê Distrital Gestor de Enfrentamento ao Trauma, composto por diversas instituições envolvidas com o tema. Em segundo lugar, a implantação de Centros de Trauma para oferecer atendimento especializado.

“A presença e a disposição estratégica de Centros de Trauma representam o principal pilar na melhoria da qualidade da assistência desses pacientes. O desenvolvimento desses centros envolve a adequação de materiais, estrutura e, principalmente, a formação e valorização dos times de trauma e de todos os profissionais envolvidos com o paciente traumatizado”, enfatiza Caselli.

Além disso, é necessária a criação e implantação de uma ferramenta de registro de trauma e o desenvolvimento de programas de prevenção.

Na avaliação do médico, o ambiente é favorável à implantação de um sistema de trauma na região. “A hierarquização dos serviços, nossa distribuição geográfica e a motivação dos servidores favorecem a organização e implantação desses serviços”, avalia o médico.

“Temos profissionais e serviços de excelência dentro de nossa rede, mas que trabalham de forma desarticulada. Esse esforço conjunto, com racionalização, otimização de recursos humanos e materiais, com consequente melhoria da assistência e redução de gastos, é a essência de um sistema de trauma”, completa.

Cenário

A proposta objetiva estruturar a rede para aprimorar a atuação dos profissionais de saúde e enfrentar um problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente, 5,8 milhões de pessoas morrem por trauma no mundo.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontam que o trauma é responsável, todos os anos, por cerca de 150 mil mortes e 500 mil sequelados temporários ou definitivos. Quando se analisa o cenário do Distrito Federal, estima-se que o trauma seja a causa de 1,5 mil a 2 mil mortes por ano.

Caselli aponta evidências científicas que indicam que, além da prevenção, a otimização do atendimento aos pacientes traumatizados, por meio da organização de um sistema de trauma, pode reduzir significativamente o número de mortes e sequelas.

Proadi-SUS Trauma

Em setembro, a Secretaria de Saúde foi convidada para aderir como piloto no programa “Tecnologia de Rápido Acesso de Dados Unificados para Mitigação da Acidentalidade”, vinculado ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). A execução é do Ministério da Saúde em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein.

O chamado Proadi Trauma objetiva reduzir a incidência de casos graves de trauma que podem evoluir para internação ou óbito, e tem como estratégia a integração e compartilhamento de informações entre serviços de atendimento por meio de uma base de dados unificada, com atualização instantânea e protocolo padrão de envio e consulta de dados (API) pelos sistemas de registro de vítimas de causas externas.

O projeto terá execução ao longo do triênio 2021-2023 e visa fortalecer o papel da Vigilância em Saúde, da gestão e da organização da Rede de Atenção à Saúde do SUS.

De acordo com a secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Fernando Erick Damasceno Moreira, esse convite e a consequente adesão da SES ao projeto-piloto do Ministério vem em um momento importante para ajudar no trabalho de implementação a Linha de Cuidado do Trauma no DF.

*Com informações da Secretaria de Saúde

Fonte: Governo DF

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Programa Cisternas avança e promove cidadania às famílias do Semiárido nordestino

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Nova etapa de execução é concretizada via convênio entre MDS e Consórcio Nordeste, no valor de R$ 311 milhões. Na área rural de Juazeiro (BA), os moradores estão otimistas com as novas possibilidades trazidas pelo acesso à água

No Semiárido nordestino, um sonho começa a ganhar forma. A retomada do Programa Cisternas vem enchendo a casa das famílias de esperança. Em meio às obras de uma cisterna para a produção de alimentos em sua propriedade, Jamile da Silva, 26 anos, faz planos para o futuro. A tecnologia de acesso à água, combinada com o recurso do Programa Fomento Rural, vai proporcionar a ela uma renda extra.

Essa cisterna vai me ajudar na atividade produtiva, vou saber que estou consumindo alimento saudável. E o Fomento vai me dar uma garantia de ter uma criação melhor, que eu preciso também, de caprinos e ovinos” Jamile da Silva, produtora rural

A produtora mora na comunidade Pau Preto, zona rural de Juazeiro, ao norte da Bahia. “O Programa Cisternas é perfeito”, definiu Jamile, sorridente. São mais de 42 mil cisternas contratadas, a partir de convênio entre o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e o Consórcio Nordeste. A parceria, formalizada em maio deste ano, contempla os nove estados nordestinos.

O investimento é de quase R$ 300 milhões do Governo Federal, por meio do MDS, e de outros R$ 12 milhões de contrapartida dos estados. O convênio prevê a instalação de 39 mil tecnologias de acesso à água para consumo humano e 2,89 mil sistemas para consumo animal e produção de alimentos. As famílias que recebem as cisternas para a produção de alimentos também são inseridas no Programa Fomento Rural, em um repasse de R$ 13,3 milhões pelo acordo.

Além de oferecer assistência técnica, o Fomento Rural transfere o valor de R$ 4,6 mil diretamente para os beneficiados. São grandes conquistas para Jamile da Silva, que pensa em alternativas de expansão produtiva, a partir do recurso, da cisterna concluída e da capacitação para trabalhar em novas culturas. Ela também quer melhorar as condições do local onde cria caprinos e ovinos, a começar pela construção de um teto para os animais.

“Essa cisterna vai me ajudar na atividade produtiva, vou saber que estou consumindo alimento saudável. E o Fomento vai me dar uma garantia de ter uma criação melhor, que eu preciso também, de caprinos e ovinos”, projetou Jamile, enquanto acompanha em detalhes o processo de construção da estrutura. Nascida e criada na zona rural, é nessa mesma terra em Juazeiro que ela quer continuar a escrever sua história.

A realidade que o Programa Cisternas desenha para as famílias é possível graças à retomada, em 2023, dos investimentos na ação. Trata-se de uma política pública que assegura o direito de acesso a água.

PERSPECTIVA — À sombra de uma árvore no quintal de casa, na comunidade Arapuá Novo, a produtora rural Maria Sonia Oliveira espera com tranquilidade o período de chuvas na região, quando será possível captar a água, armazenar e, finalmente, utilizá-la. Os 60 anos de vida, completados no último mês, são morando sobre o mesmo chão de terra em Juazeiro. Maria Sonia recorda da época em que a família não tinha cisterna em casa.

“A primeira cisterna foi um sonho, quando a gente conseguiu, há quase 20 anos. Porque a gente tinha uma dificuldade enorme de carregar a água. Tinha que buscar água longe, colocar na cabeça, era um peso”, lembrou aliviada. “Agora, com essa outra, vai ser ainda melhor, porque é para produção”, disse, mirando o futuro.

A poucos quilômetros da propriedade em que Maria Sonia cria caprinos, a família de André Nascimento também tem na pequena agricultura o meio de subsistência. É da atividade no campo que o produtor colhe qualidade de vida para os três filhos. Ao lado da esposa, Márcia Cristina, ele enxerga no Programa Cisternas a chance de ampliar e otimizar a produção na área em que vivem.

Aos 43 anos, essa será a primeira vez que o agricultor vai manejar uma horta. “Vou plantar coentro, alface, tomatinho… Vai ser pra gente comer em casa, um alimento saudável, e se for possível, até ter uma rendinha extra pra família”, planeja André, com entusiasmo.

CAPACITAÇÃO — O assessoramento técnico para as famílias que atuarão com as cisternas de produção de alimentos, tem o papel de educar e dar suporte, para que a atividade seja executada com segurança. Dessa forma, Jamile, Maria e André são acompanhados por profissionais com experiência e que conhecem o potencial produtivo da região.

Nas comunidades rurais de Juazeiro, a assistência é feita pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA). “É um trabalho que fortalece a função da assessoria técnica, porque a gente conversa com eles, tira dúvidas e até ajuda a escolher qual atividade produtiva eles querem desenvolver”, explicou Andressa Menezes, técnica do IRPAA.

“A retomada do Programa Cisternas consolida o que nós defendemos, que é a convivência com o Semiárido. É um processo que integra a família, porque todos participam”, completou.

O desenho do programa beneficia todos os envolvidos, de uma ponta a outra, como é o caso do pedreiro Flávio Rodrigues, que nunca havia trabalhado na construção civil. Ele passou por uma capacitação, esse ano, e agarrou a oportunidade. Desde que assumiu a função, perdeu as contas de quantas cisternas já ajudou a construir.

“Quero aprender mais ainda, desde moleque tinha vontade de ser pedreiro, e quero aproveitar a oportunidade de trabalhar na área. A cisterna é um presente, eu só tenho a agradecer ao programa, à ASA, a todos”, declarou Flávio. Entre o início e a entrega, a construção de cada cisterna pode variar entre sete e 15 dias, em média.

A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) é uma rede que defende, propaga e desenvolve o projeto de convivência com o bioma. A entidade é composta por mais de três mil organizações da sociedade civil, como sindicatos rurais, associações de agricultores e agricultoras, cooperativas, organizações não governamentais e institutos, como o IRPAA.

AVANÇO — Ao resgatar o Programa Cisternas, em 2023, após longo período sem incentivos, o Governo Federal investiu R$ 600 milhões e contratou 62,7 mil unidades, sendo 58,2 mil para o Semiárido e as demais para a região Amazônica.

As tecnologias sociais de acesso à água são um importante equipamento para a convivência com as regiões, promovendo dignidade, saúde, segurança alimentar e melhores condições de vida. Além disso, pesquisas científicas mostram a importância desses sistemas na saúde de gestantes e recém-nascidos.

 

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