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Maçã, queijo e vinho formam trio perfeito para degustar em São Joaquim

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O frio serrano do sul do país deu condições para que quatro regiões próximas de São Joaquim, em Santa Catarina, obtivessem selos de indicação geográfica: o mel de melato de bracatinga, a maçã fuji, o vinho de altitude e o queijo artesanal serrano. Um município de apenas 27 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas que mostra um caminho promissor para uma gastronomia refinada.

O selo de indicação geográfica destaca produtos que são reconhecidos por sua qualidade e tradição, tornando-os únicos no mundo. Esses produtos podem ser reconhecidos por sua denominação de origem (DO), quando a singularidade deles depende de características ambientais (como terreno, altitude, clima), ou por indicação de procedência (IP), quando um local torna-se conhecido por um produto que é tradicionalmente feito com qualidade na região.

Queijo artesanal serrano

Sabores do Frio Caminhos da Reportagem Sabores do Frio Caminhos da Reportagem

Com sabor mais forte, queijo artesanal serrano foi o primeiro a receber selo de identificação geográfica na região – TV Brasil

O queijo artesanal serrano foi o primeiro produto da região que engloba São Joaquim a conseguir o selo de identificação geográfica como denominação de origem, em março de 2020, com o nome IG Campos de Cima da Serra. Uma tradição de 200 anos, que chegou com os portugueses, o alimento adquiriu características específicas nas serras Catarinense e Gaúcha: a textura amanteigada, o aroma e sabor acentuados da maturação, que o diferencia de outros feitos no país.

“Um sabor mais forte, é mais saboroso. Quem costuma comer o queijo curado assim, vai ser difícil apreciar de novo o queijo normal”, diz o produtor Washington Cordova Muniz. Ele  e a esposa, Jesabel Machado, são donos da Queijaria Tropeiro Velho, de onde tiram o sustento da família. “Tudo o que produzo, vendo, e eu só trabalho com queijo”, afirma a produtora.

Um queijo que muda conforme o tempo de maturação e a estação do ano, destaca a engenheira agrônoma Ana Paula Schlichting, da  Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) de Santa Catarina. “O clima [da região] onde é preparado o queijo, a temperatura e as estações do ano tornam diferente o processo de maturação”, explica.

Para conseguir o registro, o processo foi longo. Segundo Ana Paula, em meados de 2008, a Epagri e os produtores de queijo artesanal serrano começaram o processo de estudo e resgate histórico do produto. Foi delimitada uma área de 34.372 quilômetros quadrados (km²), que abrange 18 municípios de Santa Catarina e 16 do Rio Grande do Sul.

Somente 12 anos depois do início dos estudos, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que analisa os pedidos de indicação geográfica no Brasil, aprovou o registro. Hoje, a região produz 1,6 toneladas de queijo artesanal serrano, gerando faturamento bruto de R$ 21 milhões.

Maçã fuji

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Produção da maçã fuji é estimada em mais de 170 mil toneladas por ano, com 90% vindo de pequenas propriedades – TV Brasil

Originária do Japão, a maçã fuji adaptou-se de forma excepcional na região de São Joaquim. Tanto que a cidade recebeu o título de Capital Nacional da Maçã, em 2019, com a Lei Federal 13.790, de 4 de janeiro de 2019. A variedade fuji foi desenvolvida no Japão na década de 1930 e na década de 70 veio para o Brasil. “Na época, o governo brasileiro fez convênio com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), e vieram pesquisadores para atuar no Brasil. Com eles, veio a variedade fuji, que foi introduzida aqui”, lembra o gerente do Departamento Técnico da Sanjo, Giovane Franzoi. A Sanjo é uma das maiores cooperativas de produtores de maçã do país.

Na região de São Joaquim, a variedade fuji conseguiu características como coloração vermelha mais intensa, mais crocância, acidez marcante e mais suculência que outras variedades. Além disso, as 900 horas de frio por ano, com temperaturas abaixo de 7°C, dão à fruta um diferencial.

Tais características deram à maçã fuji da região de São Joaquim destaque no país e a comprovação com o selo de denominação de origem, em agosto de 2021, com o nome IG Região de São Joaquim. A área que conseguiu o selo tem 4.928 km² e inclui também os municípios de Bom Jardim da Serra, Urupema, Urubici e Painel.

Em um ano em que as temperaturas foram mais baixas e o clima na região, mais seco no período de o crescimento da fruta, a produtora Lilia Martins conta que a maçã ficou ainda mais doce, apesar de não ter crescido tanto. “A fruta tem no meio o que se chama pingo de mel, que dá esse sabor diferente. Ela fica bem mais doce, mais saborosa”, detalha a produtora.

De acordo com o DataSebrae, estima-se que a produção de maçã fuji seja de mais de 170 mil toneladas por ano e que 90% venham de pequenas propriedades. Em São Joaquim, os produtores se uniram na Sanjo Cooperativa Agrícola, que tem produção anual de 45 mil toneladas.

Alguns proprietários rurais encontraram outras formas de aumentar a renda. Lilia Martins, por exemplo, investiu na aproximação das pessoas com o sistema Colha e Pague. “Temos pessoas que vêm há cinco anos consecutivos fazer a colheita e trazer os pais, filhos. Muitos não têm noção de como é um pé de maçã”, destaca a produtora. O encantamento é tanto que muitos turistas chegam a levar 30 quilos da fruta pra casa.

Vinhos de altitude

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Vinhos ajudaram a atrair turistas para a região, diz  Eduardo Bassetti, que produz de 20 mil a 30 mil garrafas por ano – TV Brasil

Além da região de São Joaquim, mais 28 municípios de Santa Catarina têm indicação geográfica, com o selo de indicação de procedência, com nome IG Santa Catarina, por seus vinhos de altitude.Um território de 19.676 km², que está entre 900 e 1.400 metros acima do nível do mar, produz uvas com características muito específicas, que deram singularidades aos vinhos.

Acima de 850 metros, há a maturação completa das uvas, que também passam por um período de dormência por causa das baixas temperaturas no inverno, o que torna o amadurecimento mais lento. O verão ameno, seco e com temperaturas que variam muito ao longo do dia, favorece a concentração de aromas e sabores.

Com isso, as vinícolas locais produzem diversos tipos de vinhos, como o fino, o nobre, o licoroso, o espumante natural, o moscatel, o espumante e o brandy.

Na vinícola Villaggio Bassetti, em São Joaquim, Eduardo Bassetti produz de 20 mil a 30 mil garrafas por ano. “Varia muito em função do nosso clima. Nós já produzimos 42 toneladas em um vinhedo e, no ano seguinte, 15 toneladas no mesmo vinhedo, em função das geadas tardias que ocorrem aqui.”

O vinho também atrai turistas. “Quando comecei a estudar esse assunto, em 2000, a quantidade de turistas na região era em torno de 60 mil pessoas por ano; há três anos, já passava de 200 mil, e esse incremento é devido ao vinho”, afirma Bassetti. ainda há espaço para mais vinícolas na região, conclui o produtor.

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Fonte: EBC Geral

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Ação Social

No primeiro ano de governo, 24,4 milhões deixam de passar fome

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Insegurança alimentar e nutricional grave cai 11,4 pontos percentuais em 2023, numa projeção a partir de informações da Escala Brasileira de Segurança Alimentar (EBIA), divulgada pelo IBGE com base na PNAD Contínua

Cozinhas solidárias, programas de transferência de renda, retomada do crescimento e valorização do salário mínimo compõem a lista de ações que contribuem para a redução da fome no país. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

No Brasil, 24,4 milhões de pessoas deixaram a situação de fome em 2023. O número de pessoas que enfrentam a insegurança alimentar e nutricional grave passou de 33,1 milhões em 2022 (15,5% da população) para 8,7 milhões em 2023 (4,1%). Isso representa queda de 11,4 pontos percentuais numa projeção feita a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada nesta quinta-feira, 25 de abril, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula” Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome

Na coletiva de imprensa para divulgação do estudo, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), avaliou que o avanço é resultado do esforço federal em retomar e reestruturar políticas de redução da fome e da pobreza. “O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula”, disse.

Para o ministro, o grande desafio agora é incluir essas 8,7 milhões de pessoas que ainda estão em insegurança alimentar grave em políticas de transferência de renda e de acesso à alimentação. “Vamos fortalecer ainda mais a Busca Ativa”, completou Dias, em referência ao trabalho para identificar e incluir em programas sociais as pessoas que mais precisam.

PESQUISA — As informações divulgadas nesta quinta são referentes ao quarto trimestre do ano passado. Foram obtidas por meio do questionário da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). O ministro lembrou que o governo passado não deu condições ao IBGE para realizar a pesquisa. Por isso, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) aplicou o EBIA com metodologia similar à do IBGE em 2022, quando o Brasil enfrentava a pandemia de Covid-19 e um cenário de desmonte de políticas, agravado por inflação de alimentos, desemprego, endividamento e ausência de estratégias de proteção social. Esse estudo chegou ao número de 33,1 milhões de pessoas em segurança alimentar grave na época.

A secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, lembra que mesmo em comparação aos resultados de 2018, último ano em que o IBGE fez o levantamento formal, os números apresentados nesta quinta são positivos. À época havia 4,6% de domicílios em insegurança alimentar grave. Agora são 4,1%, o segundo melhor resultado em toda a série histórica do EBIA.

“Estamos falando de mais de 20 milhões de pessoas que hoje conseguem acesso à alimentação e estão livres da fome. Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que vem sendo empreendida pelo governo, que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda”.

Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda” Valéria Burity, secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS 

Valéria também destacou como ponto importante da estratégia de combate à fome a retomada da governança de segurança alimentar pelo Governo Federal, com garantia de participação social. “O presidente Lula e o ministro Wellington foram responsáveis pela retomada do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional, a restituição do Conselho de Segurança Alimentar e da Câmara de Segurança Alimentar, com 24 ministérios que têm a missão de articular políticas dessa área. E, no fim do ano passado, foi realizada a Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional”, relatou.

A secretária nacional de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do MDS, Letícia Bartholo, ressaltou o retorno da parceria do governo com o IBGE. “Depois do período da fila do osso, em que o Brasil viveu muita miséria e fome, uma das primeiras ações do MDS nessa nova gestão foi buscar o IBGE para retomar a parceria e medir a insegurança alimentar dos brasileiros”, recordou.

SUBINDO – A proporção de domicílios em segurança alimentar atingiu nível máximo em 2013, (77,4%), tempo em que o país deixou o Mapa da Fome, mas caiu em 2017-2018 (63,3%). Em 2023, subiu para 72,4%. “Após a tendência de aumento da segurança alimentar nos anos de 2004, 2009 e 2013, os dados obtidos em 2017-2018 foram marcados pela redução no predomínio de domicílios particulares que tinham acesso à alimentação adequada. Em 2023 aconteceu o contrário, ou seja, houve aumento da proporção de domicílios em segurança alimentar, assim como redução na proporção de todos os graus de insegurança alimentar”, explicou André Martins, analista da pesquisa.

 

Dados apontam a evolução da segurança alimentar no Brasil

 

NOVO BOLSA FAMÍLIA — Entre os fatores que contribuíram para o avanço apontado pela pesquisa do IBGE, está o novo Bolsa Família, lançado em março de 2023, que garante uma renda mínima de R$ 600 por domicílio. O programa incluiu em sua cesta o Benefício Primeira Infância, um adicional de R$ 150 por criança de zero a seis anos na composição familiar. O novo modelo, com foco na primeira infância, reduziu a 91,7% a pobreza nesta faixa etária. A nova versão do programa inclui, ainda, um adicional de R$ 50 para gestantes, mães em fase de amamentação e crianças de sete a 18 anos.

BPC – O ministro Wellington Dias também ressaltou a proteção social gerada pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante um salário mínimo para pessoas aposentadas, pensionistas e com deficiência em situação de vulnerabilidade social. “Vale mencionar que o efeito econômico da Previdência e do BPC foi potencializado pelo esforço administrativo de reduzir as filas de espera para acesso aos benefícios”, disse.

MERENDA – Outra política de combate à pobreza e à fome, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) garante refeições diárias a 40 milhões de estudantes da rede pública em todo o país e foi reajustado em 2023, após cinco anos sem aumento.

PAA – O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é um dos 80 programas e ações que compõem a estratégia do Plano Brasil Sem Fome. Ele assegura produção e renda aos agricultores familiares, com compra direta dos produtos para serem distribuídos na rede socioassistencial, de saúde, educação e outros equipamentos públicos. Com a participação de 24 ministérios, o Plano cria instrumentos para promover a alimentação saudável contra diversas formas de má nutrição.

ECONOMIA – No cenário macroeconômico, houve um crescimento do PIB de 2,9% e o IPCA calculado para o grupo de alimentos caiu de 11,6% em 2022 para 1,03% em 2023. É a menor taxa desde 2017.  O mercado de trabalho ganhou força e a taxa de desemprego caiu de 9,6%, em 2022, para 7,8% no ano seguinte. A massa mensal de rendimento recebido de todos os trabalhadores alcançou R$ 295,6 bilhões, maior valor da série histórica da PNAD-C.

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