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Indígenas do Maranhão denunciam PM por prisão ilegal

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A Polícia Militar do Maranhão prendeu quatro índios da etnia Akroá-Gamela nesta quinta-feira (18), acusados de fazerem funcionários da empresa de energia elétrica Equatorial Energia e dois policiais militares reféns, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão.

A Equatorial Energia informou, por meio de nota, que seus funcionários trabalhavam na construção da Linha de Distribuição LD Miranda, que corta o território ocupado pelos akroá-gamela, quando foram abordados por um grupo de índios que exigiam a imediata paralisação do serviço. A companhia disse que, diante da situação, enviou para o local, na manhã de ontem, um grupo de negociadores encarregados de agendar uma reunião com representantes das comunidades indígenas.

“[Foi então que] os indígenas se exaltaram, mantiveram todos reféns por algumas horas, tomaram as armas dos policiais que foram chamados para tentar controlar a situação e atearam fogo nos veículos da concessionária. Um reforço foi solicitado e os reféns foram libertados sem ferimentos”, diz a nota.

Já as lideranças da Terra Indígena Taquaritiua acusam os policiais de deterem, com violência, indígenas que protestavam contra a ação da companhia energética em território indígena.

Os akroá-gamela disseram ainda que foram atacados por “jagunços” que, segundo eles, teriam se apresentado como policiais à paisana. Em relato a missionários do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), indígenas contaram que, ainda na tarde de quarta-feira (17), a comunidade foi surpreendida pela chegada, hostil e sem aviso prévio, de funcionários da Equatorial acompanhados por homens armados.

A tensão aumentou na manhã de quinta-feira, quando indígenas questionaram a presença do grupo. A partir daí, as versões apresentadas por indígenas e autoridades estaduais se contradizem.

A Secretaria Estadual de Segurança Pública disse que a Polícia Militar foi acionada depois que os indígenas já tinham queimado veículos da Equatorial e feito funcionários da empresa de reféns. Informou ainda que, ao chegarem no local, dois PMs também foram feitos reféns e tiveram suas armas subtraídas.

“Os policiais não reagiram para evitar qualquer confronto. [Um] Reforço foi solicitado, os reféns devidamente resgatados e quatro autores conduzidos para a Delegacia Regional de Viana. As armas subtraídas foram recuperadas no final da tarde”, disse a secretaria, em nota. LINK 1

Os akroá-gamela, por sua vez, alegam que os PMs foram acionados pelos homens armados que faziam a segurança dos funcionários da Equatorial e que diziam também ser agentes da segurança pública. Segundo os indígenas, ao chegarem ao local os PMs apreenderam celulares e outros equipamentos pertencentes a pessoas que registravam a situação e levaram lideranças indígenas à força para a delegacia.

De acordo com o Cimi, há anos a Equatorial Energia tenta instalar torres e linhões de transmissão de energia elétrica dentro da Terra Indígena Taquaritiua. Ainda segundo a entidade, embora a conclusão do processo de demarcação da área reivindicada como território tradicional dos akroá-gamela se arraste desde 2014, a legislação exige que a comunidade seja consultada sobre qualquer empreendimento no território que a impacte.

O Cimi denuncia que a tensão na Terra Indígena Taquaritiua aumenta ano após ano, “devido à demora da conclusão do processo de demarcação territorial”.

Confronto

No fim de abril de 2017, dezenas de indígenas foram feridos à bala, pauladas e facadas por homens armados que atacaram o povoado de Bahias, na mesma área indígena de Viana (MA). Após o episódio, a Funai constituiu, por força de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), um grupo técnico encarregado de identificar e delimitar a área de usufruto dos akroá gamela. O processo ainda não foi concluído.

A Equatorial Energia disse ter obtido dos “órgãos competentes” as licenças necessárias à realização do empreendimento. Consultadas pela Agência Brasil, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ainda não se manifestaram.

Diante da ação indígena e da repercussão do episódio, a companhia energética decidiu suspender a obra até que os órgãos competentes apurem os fatos. Segundo a empresa, a conclusão da Linha de Distribuição – LD Miranda, que terá 150 quilômetros de extensão, é “essencial para promover o desenvolvimento da região da Baixada Maranhense” e “levar energia de qualidade para todos os clientes, entre eles os povos indígenas do Maranhão”.

Pará

Esta semana, a Equatorial Energia foi alvo de uma iniciativa extrajudicial da Procuradoria da República do Pará (MPF-PA), recomendando a imediata interrupção de obras que estão sendo realizadas irregularmente no interior da Terra Indígena Alto Rio Guamá, no nordeste paraense.

As recomendações foram enviadas à empresa e também às prefeituras de Nova Esperança do Piriá; Viseu e Garrafão do Norte.

Para o MPF, os empreendimentos beneficiam “invasores do território dos indígenas Tembé e não têm autorização nem do Ibama, nem da Funai. Entre as obras em construção em áreas ocupadas por não indígenas, há aterros sanitários, escolas e rede de energia elétrica.

Especificamente à Equatorial Energia, os procuradores recomendaram a imediata suspensão da execução de qualquer projeto de instalação de energia elétrica dentro da Terra Indígena Alto Rio Guamá sem a prévia autorização da Funai e licenciamento ambiental expedido pelo Ibama. A Equatorial também deve proceder, em 30 dias, a revisão de todos os projetos de instalação de rede elétrica dentro da terra, para verificar a regularidade. Outro prazo, de 45 dias, foi concedido para que a empresa interrompa o fornecimento de energia para ligações clandestinas.

Outro lado

A reportagem procurou a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Maranhão para se manifestar respeito das acusações dos indígenas, e para informar se os quatro indígenas permanecem detidos ou foram liberados, mas ainda não recebeu resposta.

Procurada, a Equatorial Energia ainda não se manifestou.

Edição: Fernando Fraga

Fonte: EBC Geral

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Ação Social

No primeiro ano de governo, 24,4 milhões deixam de passar fome

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Insegurança alimentar e nutricional grave cai 11,4 pontos percentuais em 2023, numa projeção a partir de informações da Escala Brasileira de Segurança Alimentar (EBIA), divulgada pelo IBGE com base na PNAD Contínua

Cozinhas solidárias, programas de transferência de renda, retomada do crescimento e valorização do salário mínimo compõem a lista de ações que contribuem para a redução da fome no país. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

No Brasil, 24,4 milhões de pessoas deixaram a situação de fome em 2023. O número de pessoas que enfrentam a insegurança alimentar e nutricional grave passou de 33,1 milhões em 2022 (15,5% da população) para 8,7 milhões em 2023 (4,1%). Isso representa queda de 11,4 pontos percentuais numa projeção feita a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada nesta quinta-feira, 25 de abril, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula” Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome

Na coletiva de imprensa para divulgação do estudo, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), avaliou que o avanço é resultado do esforço federal em retomar e reestruturar políticas de redução da fome e da pobreza. “O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula”, disse.

Para o ministro, o grande desafio agora é incluir essas 8,7 milhões de pessoas que ainda estão em insegurança alimentar grave em políticas de transferência de renda e de acesso à alimentação. “Vamos fortalecer ainda mais a Busca Ativa”, completou Dias, em referência ao trabalho para identificar e incluir em programas sociais as pessoas que mais precisam.

PESQUISA — As informações divulgadas nesta quinta são referentes ao quarto trimestre do ano passado. Foram obtidas por meio do questionário da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). O ministro lembrou que o governo passado não deu condições ao IBGE para realizar a pesquisa. Por isso, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) aplicou o EBIA com metodologia similar à do IBGE em 2022, quando o Brasil enfrentava a pandemia de Covid-19 e um cenário de desmonte de políticas, agravado por inflação de alimentos, desemprego, endividamento e ausência de estratégias de proteção social. Esse estudo chegou ao número de 33,1 milhões de pessoas em segurança alimentar grave na época.

A secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, lembra que mesmo em comparação aos resultados de 2018, último ano em que o IBGE fez o levantamento formal, os números apresentados nesta quinta são positivos. À época havia 4,6% de domicílios em insegurança alimentar grave. Agora são 4,1%, o segundo melhor resultado em toda a série histórica do EBIA.

“Estamos falando de mais de 20 milhões de pessoas que hoje conseguem acesso à alimentação e estão livres da fome. Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que vem sendo empreendida pelo governo, que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda”.

Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda” Valéria Burity, secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS 

Valéria também destacou como ponto importante da estratégia de combate à fome a retomada da governança de segurança alimentar pelo Governo Federal, com garantia de participação social. “O presidente Lula e o ministro Wellington foram responsáveis pela retomada do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional, a restituição do Conselho de Segurança Alimentar e da Câmara de Segurança Alimentar, com 24 ministérios que têm a missão de articular políticas dessa área. E, no fim do ano passado, foi realizada a Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional”, relatou.

A secretária nacional de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do MDS, Letícia Bartholo, ressaltou o retorno da parceria do governo com o IBGE. “Depois do período da fila do osso, em que o Brasil viveu muita miséria e fome, uma das primeiras ações do MDS nessa nova gestão foi buscar o IBGE para retomar a parceria e medir a insegurança alimentar dos brasileiros”, recordou.

SUBINDO – A proporção de domicílios em segurança alimentar atingiu nível máximo em 2013, (77,4%), tempo em que o país deixou o Mapa da Fome, mas caiu em 2017-2018 (63,3%). Em 2023, subiu para 72,4%. “Após a tendência de aumento da segurança alimentar nos anos de 2004, 2009 e 2013, os dados obtidos em 2017-2018 foram marcados pela redução no predomínio de domicílios particulares que tinham acesso à alimentação adequada. Em 2023 aconteceu o contrário, ou seja, houve aumento da proporção de domicílios em segurança alimentar, assim como redução na proporção de todos os graus de insegurança alimentar”, explicou André Martins, analista da pesquisa.

 

Dados apontam a evolução da segurança alimentar no Brasil

 

NOVO BOLSA FAMÍLIA — Entre os fatores que contribuíram para o avanço apontado pela pesquisa do IBGE, está o novo Bolsa Família, lançado em março de 2023, que garante uma renda mínima de R$ 600 por domicílio. O programa incluiu em sua cesta o Benefício Primeira Infância, um adicional de R$ 150 por criança de zero a seis anos na composição familiar. O novo modelo, com foco na primeira infância, reduziu a 91,7% a pobreza nesta faixa etária. A nova versão do programa inclui, ainda, um adicional de R$ 50 para gestantes, mães em fase de amamentação e crianças de sete a 18 anos.

BPC – O ministro Wellington Dias também ressaltou a proteção social gerada pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante um salário mínimo para pessoas aposentadas, pensionistas e com deficiência em situação de vulnerabilidade social. “Vale mencionar que o efeito econômico da Previdência e do BPC foi potencializado pelo esforço administrativo de reduzir as filas de espera para acesso aos benefícios”, disse.

MERENDA – Outra política de combate à pobreza e à fome, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) garante refeições diárias a 40 milhões de estudantes da rede pública em todo o país e foi reajustado em 2023, após cinco anos sem aumento.

PAA – O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é um dos 80 programas e ações que compõem a estratégia do Plano Brasil Sem Fome. Ele assegura produção e renda aos agricultores familiares, com compra direta dos produtos para serem distribuídos na rede socioassistencial, de saúde, educação e outros equipamentos públicos. Com a participação de 24 ministérios, o Plano cria instrumentos para promover a alimentação saudável contra diversas formas de má nutrição.

ECONOMIA – No cenário macroeconômico, houve um crescimento do PIB de 2,9% e o IPCA calculado para o grupo de alimentos caiu de 11,6% em 2022 para 1,03% em 2023. É a menor taxa desde 2017.  O mercado de trabalho ganhou força e a taxa de desemprego caiu de 9,6%, em 2022, para 7,8% no ano seguinte. A massa mensal de rendimento recebido de todos os trabalhadores alcançou R$ 295,6 bilhões, maior valor da série histórica da PNAD-C.

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