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A língua portuguesa

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Neste sábado, 5 de novembro, comemora-se o Dia Nacional da Língua Portuguesa. A data, instituída oficialmente em 2006 a partir de projeto do então senador Papaleo Paes, do Amapá, é o dia de nascimento do intelectual e político Ruy Barbosa, considerado grande estudioso e defensor do idioma no Brasil. 

Descrita pelo escritor Olavo Bilac como a “Última flor do Lácio [uma região italiana onde se falava latim], inculta e bela”, a língua portuguesa é usada por 260 milhões de pessoas pelo mundo, de acordo com projeção do Instituto Camões. Além disso, é o idioma oficial de nove países e de algumas regiões administrativas, como Macau, Damão e Diu, Malaca e Goa. Nosso País é a nação com maior número de lusófonos, apesar de ser a única entre as Américas. 

Embora os rankings discordem quanto à posição, no geral, o português figura entre os dez idiomas mais falados no mundo. Sua diáspora é herança da colonização de Portugal, iniciada com a expansão marítima por volta do século XV, razão pela qual está espalhado oficialmente por quatro continentes. Isso sem contar os falantes da língua que migraram de seus países de origem, mas ainda são seus adeptos. 

Ainda que seja o mesmo idioma, a língua praticada em cada lugar sofre modificações conforme as peculiaridades do local em que está inserida. No Brasil, por exemplo, é permeada por termos provenientes das culturas dos povos indígenas originários.

“A história de uma língua é inseparável da história de seus falantes, daqueles que a herdaram, modificaram e recriaram ao longo do tempo. A língua portuguesa falada no Brasil é profundamente marcada pelo contato com outros povos e culturas, seja dos povos originários que aqui viviam séculos antes, seja dos povos escravizados, bem como daqueles que para cá migraram nos últimos séculos”, destaca publicação do Museu da Língua Portuguesa, localizado em São Paulo. 

Estima-se, segundo o Inventário Nacional da Diversidade Linguística, que mais de 250 línguas sejam faladas no Brasil, entre indígenas, de imigração, de sinais, crioulas e afro-brasileiras, além do português e de suas variedades. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconhece sete línguas como Referência Cultural Brasileira, sendo seis delas indígenas. 

Línguas portuguesas  

Enquanto a linguagem pode ser entendida como qualquer mecanismo capaz de transmitir conceitos, ideias e sentimentos, a língua necessita de símbolos (verbais ou não) e regras gramaticais próprias para ser reconhecida. Em outras palavras, a forma com que os cachorros se comunicam, por exemplo,  – latindo, abanando o rabo ou rosnando –  é a linguagem canina, mas não é uma língua. Assim como a linguagem cinematográfica ou a da dança. Línguas têm estrutura e respeitam hierarquias em nível fonológico (sons), morfológico (palavras) e sintático (estrutura). 

Mas isso não é tudo. Apesar da necessidade de atender a requisitos técnicos para ser caracterizada, a língua vai muito além deles. É um meio de comunicação dinâmico, vivo, que está em constante mudança. É uma produção coletiva que envolve memória, diversidade e cultura. 

Linguistas como o russo Roman Jakobson trouxeram conceitos que enfatizam o lado social da comunicação e, assim, os estudos da área puderam ampliar o entendimento das funções linguísticas.

Conforme afirma o escritor angolano José Eduardo Agualusa, “a língua portuguesa é uma construção conjunta de todos aqueles que a falam — e é assim desde há séculos. A minha língua — aquela de que me sirvo para escrever —, não se restringe às fronteiras de Angola, de Portugal ou do Brasil. A minha língua é a soma de todas as suas variantes. É plural e democrática”. 

No decorrer dos anos, os países falantes da língua portuguesa promoveram iniciativas com o intuito de padronizar e unificar o modo de se escrever as palavras e preservar a unidade linguística. Exemplos disso são os Acordos Ortográficos de 1990 e 2009.  

Outras propostas para a criação de laços e aproximação das nações lusófonas são a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), criada em 1996, e o Museu Virtual da Lusofonia

Entretanto, há quem questione a efetividade de tais medidas. O jornalista brasileiro Matheus Tuga está fazendo doutorado em Braga (Portugal), mora por lá há mais de um ano e não acredita que tal unidade seja possível. Para ele, a língua é um dos traços culturais mais fortes que existem e agrega a si elementos indissociáveis particulares de cada local.

“Você pode unificar regras gramaticais. O ditongo aberto perdeu o acento, ok, mas e daí? Isso não tem nenhum efeito cultural, é mais um instrumento de relações internacionais para promover narrativas de aproximação”, afirma. 

Tuga conta que o idioma influenciou na sua escolha para fazer o doutorado em Portugal, mas, quando chegou no país, a “facilidade” não se mostrou tão grande quanto ele esperava. “Tive um professor que falava tão rápido e tão “para dentro” (as vogais do português lusitano são todas fechadas, os fonemas todos, em geral), que todos os brasileiros sentavam na primeira fileira e, ainda assim, tínhamos dificuldades para entendê-lo”.

O jornalista revela que esse é um choque comum entre os brasileiros que vão passear, estudar ou morar em Portugal. Muitos acreditam, segundo ele, que a maior dificuldade será a diferença de vocabulário, mas a pronúncia e a forma com que os portugueses falam são os verdadeiros responsáveis por tornar a compreensão desafiadora. 

“Inclusive, existe uma forma de preconceito até de alguns brasileiros aqui. Eles querem preservar a todo custo seu próprio sotaque. Já estive em alguns ambientes em que se você falar em português de Portugal, os brasileiros não gostam”, narra. 

Quanto à opinião dos nativos de terras lusitanas, há casos e casos. “Os portugueses mais tradicionais não aceitam muito. Recentemente, essa discussão é cada vez maior. Para eles, não falamos português, falamos “brasileiro””, encerra Matheus. 

O “brasileiro”

Um dos episódios mais recentes desta novela linguística ocorreu em dezembro de 2021. O jornal português “Diário de Notícias” publicou uma matéria acusando o youtuber brasileiro Lucas Netto de ser responsável por fazer crianças portuguesas perderem seus sotaques e linguajares e “falarem brasileiro”. 

“Dizem grama em vez de relva, autocarro é ônibus, rebuçado é bala, riscas são listras e leite está na geladeira em vez de no frigorífico”, dizia um dos trechos. A publicação de tom xenofóbico foi alvo de polêmica internacional e acabou tirada do ar pelo jornal. Após a controvérsia, Lucas Netto passou a oferecer seu conteúdo, que é voltado para o público infantil, com dublagem feita por atores portugueses.

Desavenças à parte, a língua portuguesa, seja ela a falada no Brasil, Portugal ou Angola, faz parte da identidade daqueles que a falam. Conforme destaca o Museu da Língua Portuguesa, “A língua é parte crucial da natureza humana, sua multiplicidade faz parte da nossa história, e abordar a distribuição das línguas em variados territórios é falar da história implícita nas dinâmicas sociais de seus falantes”. 

O programador Adriano Araújo mora nos Estados Unidos há mais de 20 anos, mas, ainda hoje, faz questão de buscar contato frequente com conterrâneos que falam seu idioma natal. “O jeito do brasileiro é muito diferente de qualquer outro povo. Conversar, aqui, em português, me faz sentir perto de casa”, confessa. 

“Brasileiro” ou português, o idioma falado em território verde e amarelo pode ser explorado de várias formas, inclusive, virtualmente. Além dos já citados na matéria, o projeto Novas Palavras, da Academia Brasileira de Letras, é mais uma oportunidade. O portal oferece ao público curiosidades sobre palavras e termos da língua portuguesa, revelando seus significados, derivações e categorias gramaticais. 

Ocasiões como o Dia Nacional da Língua Portuguesa servem, assim, para ressaltar a importância de conhecer a fundo o nosso idioma.“Isso vai além das aulas de português que todo mundo tem na escola. A nossa cultura, nossa história, nossa identidade, passam pela língua”, finaliza Adriano. 

Fonte: Assembleia Legislativa de GO

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Política

“Temos que governar com o espírito de JK”, defende Caiado em encontro nacional de lideranças

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Na 2ª edição do Seminário Brasil Hoje, em São Paulo, o governador falou sobre clima de acirramento da política nacional e soluções reais para problemas da população

No debate sobre desafios e oportunidades para os estados, em São Paulo, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, citou o ex-presidente Juscelino Kubitschek (JK), que comandou o país entre 1956 e 1961 em clima de coalizão. “Foi esse homem que deu conta de fazer todo o desenvolvimento, destacar o Centro-Oeste e o Norte do país”, disse Caiado. A fala foi durante a segunda edição do Seminário Brasil Hoje, realizado nesta segunda-feira (22/04).

O evento reuniu lideranças políticas e do setor privado para debater o cenário econômico atual. “Ninguém governa brigando, nesse clima de acirramento político. O presidente hoje tem que governar com o espírito que JK teve, de poder, se preocupar com matérias relevantes”, disse Caiado. Ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o goiano encerrou o evento, com a mediação do jornalista Willian Waack.

Em seminário nacional, Caiado fala que presidente da República deve seguir exemplo de JK

Em seminário nacional, Caiado fala que presidente da República deve seguir exemplo de JK

Caiado relembrou que, à época de JK, o país também vivia grande clima de polarização política, com diversas forças tentando derrubar o presidente. Ao ser resolvida a crise, JK pediu calma e que o deixassem trabalhar pelo país, sem também promover clima de revanchismo contra adversários.

“Essa polarização é deletéria, todo mundo pode contribuir para seu fim”, disse Tarcísio ao concordar com Caiado. Para ele, o Judiciário, Legislativo, a mídia e mais setores da sociedade também devem atuar para descomprimir o debate. “Estamos cada dia mais próximos do limite, a população não aguenta”, alertou Tarcísio. O encontro foi promovido pela organização Esfera Brasil, que se intitula “apartidária e independente”, com transmissão ao vivo via internet.

Sobre desafios da segurança pública nos estados, Caiado ressaltou que “bandido tem que cumprir pena, e não ficar fazendo falsa política social”. Ele destacou ainda a necessidade do combate às facções criminosas que dominam diversos pontos, nas grandes metrópoles. “Ter territórios onde não se pode entrar significa que não temos um estado democrático de direito”, afirmou.

Como resultado das ações do Governo de Goiás, ele citou que o estado hoje não tem nenhum território dominado por facções e é exemplo nacional em segurança pública.

Seminário
Também integraram a programação do seminário o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, além de outras autoridades. Nos demais painéis, foram abordados temas como as perspectivas para as eleições municipais, comunicação, meio ambiente e integração e inovação de cadeias produtivas.

Fotos:_Julia Fagundes Esfera / Secretaria de Comunicação – Governo de Goiás

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