Saúde

UFF desenvolve jalecos impermeáveis para dentistas na pandemia

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A equipe liderada pela cirurgiã-dentista e professora titular de Periodontia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Eliane dos Santos Barboza concluiu a segunda etapa da pesquisa que avalia a eficácia de jalecos cirúrgicos na proteção dos dentistas contra a covid-19. Dos sete tecidos testados nessa fase, cinco eram TNTs (tecido não tecido) com barreiras laminadas, que apresentaram condições de impermeabilidade, essenciais para uso dos profissionais da odontologia, enquanto os dois restantes, à base de poliéster e de algodão, não funcionaram como repelentes de água, apesar de serem relatados como hidrorrepelentes.

A utilização de equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas, jalecos e aventais sempre fez parte da rotina de trabalho dos dentistas. Essa necessidade se tornou mais imperiosa com a pandemia do novo coronavírus. Por isso, a equipe da professora Eliane investigou a eficácia dos EPIs de TNT (tecido não tecido) para os dentistas, em estudo que foi divulgado no ano passado e no qual se concluiu que é de vital importância, em tempos de pandemia pelo vírus SARS-Cov-2, o uso de vestimenta impermeável pelos profissionais que utilizam em seu trabalho ferramentas como aerossóis, por exemplo. Na segunda etapa da pesquisa, foi avaliada a resistência dos jalecos cirúrgicos com diferentes materiais de fabricação.

“Os profissionais de saúde que trabalham com aerossóis, principalmente dentistas, que utilizam caneta de alta rotação e aparelhos de ultrassom para fazer raspagem geral, se estiverem expostos a esses aerossóis, devem utilizar vestimentas impermeáveis”, afirmou Eliane. Salientou que o estudo faz distinção entre impermeáveis e hidrorrepelentes porque esses segundos materiais, às vezes, não são impermeáveis. “A gente tem tido várias perdas de colegas dentistas para a covid-19”.

Testes

A professora de Periodontia da UFF observou que o tecido SMS, composto de seis camadas (SSMMMS – Spunbond, Spunbond, Meltblown, Meltblown, Meltblown, Spunbond), mundialmente utilizado na fabricação de vestimentas cirúrgicas, não foi barreira para o aerossol em cinco minutos, tempo de duração do teste, que equivale ao tempo máximo ininterrupto de exposição do dentista a um procedimento odontológico, como preparação de uma coroa. O mesmo ocorreu em relação ao tecido de algodão impregnado com nanopartículas, que não ofereceu proteção contra aerossóis. Os dois tecidos são descritos como repelentes de água. Eliane esclareceu que esses tecidos podem ser usados por médicos, visando barreira microbiana, mas não em consultórios odontológicos, para garantir a segurança dos dentistas.

Eliane Barboza reiterou que os profissionais da odontologia têm que saber as especificações do produto que está comprando “e devem optar, nesse momento ainda de pandemia, por vestimenta impermeável, que repele aerossóis. Essa é a minha conclusão”. Caso o profissional não tenha acesso a jalecos impermeáveis, deve usar, obrigatoriamente, vestimenta de plástico associada ao jaleco descartável, seguindo as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2014, no caso do vírus H1N1, e de 2020, do novo coronavírus, disse a coordenadora do estudo.

O diretor da Faculdade de Odontologia da UFF, Ésio Vieira, destacou que desde o início da pandemia, as autoridades sanitárias têm apontado a odontologia no topo da cadeia de contaminação. Segundo ele, “o coronavírus habita as vias aéreas superiores e nós, cirurgiões dentistas e auxiliares, trabalhamos com a cavidade oral. Além disso, uma especificidade da nossa profissão é a de produzir o chamado aerossol, que cria uma via de comunicação ainda mais íntima, aumentando o poder de invasividade do vírus em relação ao profissional. Fica clara, portanto, a importância do EPI utilizado por nós e de termos um material em que o isolamento seja total”, explicou.

Essa etapa complementar da pesquisa envolveu a montagem de uma metodologia inédita, em um dos laboratórios da Odontologia, com o propósito de avaliar a efetividade dos EPIs por meio da simulação da produção de aerossol. O trabalho foi dividido em etapas que consistiram na execução dos procedimentos com aerossóis nas 70 amostra, sendo dez amostras de cada um dos sete diferentes tecidos; transferência e análise das imagens; análise estatística dos resultados; etapa de discussão e produção do artigo científico já submetido para a publicação “Frontiers in Dental Medicine”, um periódico de livre acesso.

Aprovados

Foram aprovados os cinco seguintes tecidos: Laminated Phobic #B5RHBBK50, que é um TNT (polipropileno) com filme (laminado) de polietileno, fabricado e enviado pela Fitesa (Porto Alegre); Medical Barrier #002, TNT também da Fitesa, laminado com polietileno da Nova Embalagens e Filmes Técnicos (Rio de Janeiro), distribuído pela Mewi (RJ); Trilayer Fabric #21804, tecido composto de 3 camadas (poliéster, membrane de poliuretano e poliester), fabricado pela Alpex (Saint Chamond, Loire, France); Jaleco impermeável #78631, TNT (polipropileno) com filme (laminado) de polietileno, fabricado pela Polymer Group Inc. (São José dos Pinhais-PR); e Impermeável com fita seladora #000017, TNT (polipropileno) com filme (laminado) de polietileno, fabricado pela Cotebras (São Paulo).

Já os dois tecidos considerados não impermeabilizantes foram o SMS PP OE Phobic #N070AS40, TNT de seis camadas, enviado pela Fitesa, e o Clean Wear #03 (100% algodão com nanopartículas) – Nanowear (Novo Hamburgo-RS).

Eliane Barboza avaliou que toda a conduta dos profissionais da área da saúde vai ter que mudar, como ocorreu com o HIV. “Antes da Aids, não tinha caneta de alta rotação esterilizável. Com o HIV, é contaminação pelo sangue. No caso da covid-19, é contaminação pelo ar”. Outra coisa que preocupa muito é a contaminação cruzada, ressaltou. Um profissional tira o jaleco, cumprimenta uma pessoa que leva a mão ao nariz ou ao olho, “e vai contaminando tudo”. Completou: “A gente vai ter novos protocolos de atendimento, como foi feito para o HIV”.

O grupo de pesquisadores incluiu o diretor da Faculdade de Odontologia, professor Ésio Vieira, que já adquiriu os EPIs de acordo com as especificações necessárias para a segurança dos profissionais e alunos do curso, o que possibilitou um retorno aos atendimentos clínicos; o chefe do Departamento de Odontoclínica, professor Gustavo Oliveira; o docente do Departamento de Odontotécnica, Waldimir de Carvalho; as mestrandas Caroline Montez e Luiza Sendra; e o pós-doutorando Vinicius Ferreira. (Alana Gandra)

Edição: Valéria Aguiar

Fonte: EBC Saúde

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Saúde estadual alerta: vacinas evitam internações e mortes

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Secretaria de Saúde relata aumento de internações e mortes por dengue e influenza, principalmente entre idosos e crianças

Doenças como dengue e influenza em Goiás têm provocado aumento de diagnósticos e internações, com mais mortes. Desde o início do ano, já foram registrados mais de 150 óbitos por dengue. Já a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) resultou em 179 óbitos, principalmente entre crianças menores de 2 anos (16 mortes), e idosos com 60 anos. Dentre as principais causas, pode estar a baixa cobertura vacinal para dengue e Influenza.

A grande preocupação da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), no momento, é com a alteração da sazonalidade da dengue e doenças respiratórias, como a influenza, com as mudanças climáticas, que já começam neste mês. Segundo a superintendente de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim, o histórico de Srag mostra aumento de casos neste período, quando começam as inversões térmicas. “É nesta época que começam a circular os vírus respiratórios, de forma mais intensa”, explica.

Flúvia Amorim chama a atenção, principalmente, para os extremos das faixas etárias, que são crianças e idosos, as principais vítimas de doenças respiratórias. “Para essas pessoas, o quadro pode ser muito grave. Por isso, não deixem de se vacinar”, orienta. “Se você faz parte de algum dos grupos prioritários, procure rapidamente o posto de vacinação”, continua Flúvia, para lembrar que, embora haja vacina disponível contra a influenza em todos os postos de vacinação dos 246 municípios, apenas 20,82% do público-alvo (grupos prioritários) buscaram o imunizante. Já em relação a Covid-19, a cobertura vacinal está em 20,82%. “A vacina demora dez dias para fazer efeito. Então, quanto mais rápido se vacinar, mais rápido a pessoa estará protegida”, avisa.

A Superintendente de Regulação, Controle e Avaliação da SES, Amanda Limongi, também reforça a importância da vacinação. “É o meio mais eficaz de prevenir internações, tanto de dengue quanto de Síndromes Respiratórias Agudas Graves”, afirma, ao confirmar que o “encontro” de casos de dengue e doenças respiratórias tem demandado mais internações em Goiás.

Ela faz um apelo também à população dos municípios que ainda dispõem de vacinas contra a dengue. “Dos 246 municípios goianos, 155 ‘zeraram’ seus estoques, mas ainda faltam 10 mil doses a serem aplicadas”, explica. A superintendente se refere ao restante das 158,5 mil doses recebidas do Ministério da Saúde e que vão vencer em 30 de abril, mesmo com a ampliação da idade para pessoas de 4 a 59 anos. Essa ampliação vale apenas para esses lotes do imunizante. Para a próxima, já está definido o retorno das idades de 10 a 14 anos, para o público-alvo.

Fotos: Iron Braz / Secretaria de Estado da Saúde – Governo de Goiás

 

 

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