Desde 2013, em Goiás, existe a Semana Estadual de Incentivo ao Ciclismo, comemorada, anualmente, de 25 a 30 de janeiro, conforme a Lei nº 17.984, de 25 de janeiro de 2013. O deputado Karlos Cabral (PDT) foi o autor do projeto que deu início a essa legislação. Na matéria de nº 3023/12, o parlamentar justificou que o objetivo é “difundir o uso da bicicleta tanto como forma de exercício físico quanto como meio de transporte”. 

Ainda naquele período, Cabral já apontava os benefícios do uso de bicicletas para a saúde, o meio ambiente e a mobilidade urbana. “O incentivo do uso da bicicleta nas áreas urbanas pode diminuir o número de veículos automotores e, consequentemente, a emissão de gás poluente. Por isso é denominado ecologicamente correto”, exemplificou o autor. 

Anos antes, em 2008, foi instituída a Política de incentivo ao uso da bicicleta no âmbito do estado de Goiás, pela Lei nº 16.369/08. Esse texto, que em 2022 completa 14 anos de vigência, já previa finalidades como as seguintes: a promoção de ações e projetos em favor de ciclistas, pedestres e cadeirantes, a fim de melhorar as condições para o deslocamento; a integração da bicicleta ao sistema de transporte público existente; e estimular a implantação de ciclovias e espaços públicos reservados às bicicletas. Porém, tanto tempo depois, apesar dos avanços inegáveis, essas pautas ainda não foram completamente alcançadas. 

A Assembleia Legislativa de Goiás tem incentivado o uso de bicicletas por meio de diversos projetos de lei. Considerando apenas as matérias apresentadas na 19ª Legislatura, estão em tramitação sete projetos que buscam incentivar o uso das bikes no estado e proteger o direito dos ciclistas.  

Em tramitação na Alego

Processo nº 8846/21 – Deputado Delegado Eduardo Prado (DC) – Requer que, na construção, reforma ou duplicação de trechos urbanos de rodovias estaduais deverão ser construídas ciclovias objetivando oferecer a devida condição de trafegabilidade aos ciclistas.

Processo nº 4699/20 – Deputado Coronel Adailton (Progressistas) – Institui a Política de Incentivo ao Cicloturismo em Goiás. 

Processo nº 7109/19 – Deputado Virmondes Cruvinel (Cidadania) – Visa conceder desoneração tributária para aquisição de bicicleta, scooter, skate, monociclo, patinete ou similar com propulsão elétrica como medida de fomento da diminuição da poluição e de educação e segurança no trânsito, nos termos dos incisos VI e XII do art. 23 da Constituição Federal.

Processo nº 6771/19 – então deputado Diego Sorgatto (DEM) – Dispõe sobre critérios e condições para doação de bicicletas apreendidas pelas Delegacias de Polícia do Estado de Goiás a entidades sem fins lucrativos declaradas de Utilidade Pública Estadual e entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. 

Processo nº 4634/19 – Deputado Delegado Eduardo Prado (DC) – Tem o objetivo obrigar estabelecimentos do estado que comercializam bicicletas a fornecerem ao consumidor documentação fiscal no ato da transação que contenha número de registro de série da bicicleta a fim de amparar o ciclista em casos de furtos e roubos de bicicletas.

Processo nº 4600/19 – Deputada Delegada Adriana Accorsi (PT) – Cria o Sistema estadual de prevenção ao furto, roubo e ao comércio ilegal de bicicletas no estado de Goiás.

Processo nº 3282/19 – Deputado Lucas Calil (PSD) – Dispõe sobre a criação do Sistema Cicloviário no estado de Goiás. 

Vida de bikers

O chefe da Seção Administrativa da Escola do Legislativo, Hernesto Lins, é um exemplo de como as bikes podem se tornar um estilo de vida. Adepto da bicicleta como meio de transporte desde a infância, ele conta que os treinos foram se intensificando progressivamente na última década. Hernesto adquiriu bikes específicas para as modalidades ciclismo de montanha (MTB) e de estrada (speed) e há cinco anos tem percorrido cerca de 400 km por semana, entre trilhas de MTB, treinos na estrada e ciclismo indoor, que é a modalidade realizada em bicicleta ergométrica, para o fortalecimento muscular. “No ano passado, por exemplo, eu percorri 16.506,9km em 220 pedaladas, e com 527 horas e 43 minutos. Tudo registrado em um aplicativo de monitoramento de atividades físicas”, contabiliza o ciclista.

Hernesto leva tão a sério a atividade sobre duas rodas que também participa de competições. Em setembro do ano passado, por exemplo, chegou em 1º lugar na classificação geral do “GoRide 4 – Gyn x Piri”, um desafio em duplas de MTB, no qual percorreu mais de 100 Km em trilhas de montanhas. Ele também relata que sua pedalada mais longa foi entre Goiânia e Itaberaí, no segundo dia de 2022. “Foram 201,8 km em 6h40min. Saí às 5h08min e cheguei por volta das 14h. Exausto, claro!”, relembra, com bom humor. 

O servidor explica que pedalar lhe traz benefícios que vão muito além do condicionamento físico. “A pedalada solitária permite um tempo comigo mesmo para ter maior concentração no treino e, também, para o exercício da reflexão, me ajudando a encontrar soluções para as questões do dia a dia. Já a pedalada em grupo é o momento de descontração, de rever os grandes amigos que fiz ao longo dessas duas décadas nos pedais e, claro, de atiçar a boa e saudável competitividade entre os bikers”, completa. 

A história de Letícia Fagundes sobre duas rodas não é tão longa, mas também muito intensa. Ela começou a pedalar em 2017 e se apaixonou tanto pela vida de biker que até decidiu abrir um negócio no ramo. “Na minha cidade, Nova Friburgo (RJ), não tinha variedade em roupas e acessórios femininos para ciclistas, já que era um esporte muito praticado pelos homens aqui. Dessa necessidade, veio a ideia de ter um negócio voltado para o ciclismo. Na pandemia tivemos um boom de crescimento porque aumentou muito a quantidade de pessoas pedalando. Hoje o número de mulheres que estão no ciclismo é muito grande. É legal demais ver o quanto o nosso esporte vem crescendo”, comemora a ciclista e empresária. 

Também adepta dos grupos de ciclismo, o maior desafio superado por Letícia, até o momento, foi um pedal entre Nova Friburgo e Aparecida do Norte (SP). Foram 423 km em três dias. “Outra experiência que me marcou muito foi fazer o desafio de 400 km de MTB dentro de 24 horas. Foi um pedal muito duro e que exige muito do corpo e da mente, mas juntos vamos mais longe. A bike proporciona momentos, lugares, amigos e histórias. Pedalar é viver!”, define. 

Mobilidade

Se individualmente os benefícios já são tantos, as vantagens para a coletividade também são gigantes. O perito em trânsito e membro da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Antenor Pinheiro, esclarece que o transporte por bicicletas precisa ser estimulado pelo poder público. “É necessário que haja um planejamento, uma infraestrutura que permita que as pessoas se sintam atraídas para o uso da bicicleta como meio de transporte e não apenas como equipamento de esporte e lazer”, ressalta. 

O transporte por bicicleta é uma possibilidade prevista na Política Nacional de Mobilidade Urbana, mas, segundo o perito, no planejamento urbano, essa diretriz precisa ser repensada de modo integrado aos sistemas de ônibus. Ele afirma que uma possibilidade viável seria, por exemplo, que, nos percursos longos, as pessoas guardassem suas bicicletas em terminais e prosseguissem de ônibus. “É preciso uma infraestrutura inteligente, integrada, adequada e, sobretudo, segura. São necessárias mais políticas articuladas com opção de mobilidade, preparando, inclusive, um sistema de estacionamento público para bicicletários e paraciclos, que é o suporte físico onde a bicicleta é presa”, elenca Antenor.