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Estudo quer auxiliar país a alcançar metas do Acordo de Paris

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Os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro tendem a ter um aumento nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) nos próximos anos, caso não sejam adotadas ações para reduzir esse tipo de emissão, como a adoção de uma economia carbono neutro. Já o estado do Amazonas tende a reduzir a emissão de GEE. As tendências tomam como base o ano de 2005, que é utilizado como referência para a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, do nome em inglês) do Brasil ao Acordo de Paris.  

Os dados fazem parte do Relatório final do Projeto ICAT Brasil, divulgado hoje (28) para a Agência Brasil pelo Centro Brasil no Clima (CBC). Os resultados do projeto mostram que a tendência atual nos três estados é de que as emissões continuem crescendo, distanciando o país do alcance das metas da NDC. Por outro lado, a adoção de novas ações para reduzir as emissões de GEE pode melhorar esse cenário, mas é necessário ainda um esforço adicional, principalmente em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

A escolha dos três estados considerou o perfil de emissões. No Amazonas, as emissões de GEE são decorrentes do setor denominado Afolu, que engloba agricultura, florestas e outros usos do solo, que englobam emissões associadas ao desmatamento. Já Minas Gerais tem perfil de emissões associado à predominância da agricultura, com participação importante de indústria e energia, enquanto no estado do Rio de Janeiro, o perfil é dominado pelo setor de energia. Esse conjunto de estados é representativo para as demais unidades da Federação, para os objetivos do projeto ICAT.

Em Minas, o relatório aponta que o crescimento esperado das emissões brutas de GEE é de 18%, enquanto no Rio a projeção aponta para expansão de 33%, ambos em relação ao nível de 2005, mesmo com ações para a redução das emissões. O Amazonas, por sua vez, apresentou cenário positivo caso sejam adotadas ações de mitigação adicionais, especialmente nos setores de Afolu e indústria. Os resultados mostram que o estado tem potencial de redução de 233% nas emissões em relação ao nível de 2005.

O Projeto ICAT Brasil foi iniciado em 2018 com apoio técnico do Centro Clima, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). O objetivo da iniciativa é desenvolver estratégias para que os estados possam auxiliar o país a alcançar as metas da NDC, bem como estabelecer indicadores para monitorar as trajetórias de emissões.

Desmatamento

O coordenador de Projetos do CBC Guilherme Lima afirmou que se forem adotadas medidas adicionais de mitigação para reduzir as emissões, Rio de Janeiro e Minas Gerais ainda teriam um aumento, só que menor, enquanto o Amazonas conseguiria reduzir bastante as emissões. “O Amazonas tem um grande potencial de reduzir as emissões, justamente por causa do perfil do estado, que tem as emissões muito ligadas ao desmatamento”. Lima observou, por outro lado, que o quadro de diminuição das emissões depende também do contexto político.

Lima lembrou que, a partir de 2005, quando as emissões estavam atingindo um pico, foram adotadas políticas para conter o desmatamento e isso possibilitou redução considerável nas emissões associadas a esse setor. Desde 2015, entretanto, ocorreu uma reversão do cenário, com aumento de emissões. Ele explicou que as emissões associadas ao desmatamento estão um pouco descoladas do contexto econômico.

Durante a pandemia de covid-19, muitos países tiveram redução das emissões porque a atividade econômica se retraiu um pouco, enquanto no Brasil elas continuaram aumentando, porque a dinâmica do desmatamento não é tão atrelada à atividade econômica e ao Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos) do país, disse Lima. “Depende muito do contexto político e da vontade política de mover ações para poder conter esse cenário, no qual os estados estão adotando a dianteira, no momento”.

De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, para o ano de 2019, o Amazonas ocupa a terceira colocação no ranking de emissões de GEE no Brasil, com Minas Gerais no quinto lugar e o Rio de Janeiro na décima primeira posição. Guilherme Lima salientou que o projeto visa que as avaliações feitas para esses três estados sirvam de referência para que os demais possam avaliar seus cenários de forma semelhante e identificar quais indicadores necessitam para acompanhar suas emissões ao longo do tempo, bem como as ações que adotam.

Ambição

Lima reiterou que as ações devem ser cada vez mais ambiciosas, como apontou o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em agosto deste ano. “Os efeitos das mudanças climáticas demonstraram que é preciso que se adotem ações cada vez mais ambiciosas para reduzir as emissões. Não tem um prazo. Precisa ser feito já, neste momento”, assegurou o coordenador de Projetos do CBC.

Lima ressaltou a importância do estudo para os estados brasileiros, que estão assumindo a dianteira na agenda climática nacional. “Estão tendo uma maior proeminência dentro desse cenário e buscando estabelecer parcerias e implementar ações para reduzir as emissões”. Destacou que para isso, eles precisam receber financiamentos, muitas vezes de organismos internacionais. Nesse contexto, é importante que os estados possam mostrar resultados que estão sendo alcançados. “É importante que a gente tenha uma organização institucional que possa mostrar como os recursos estão sendo aplicados e como estão sendo atingidos os resultados por meio dos indicadores de MRV (monitoramento, recorte e verificação)”. Segundo Lima, isso é fundamental para que os estados possam verificar se estão no caminho certo e reportar isso para os financiadores.

O coordenador citou, como exemplo, o Fundo Estadual de Meio Ambiente, que alguns estados já estão criando, como estrutura institucional que pode oferecer o arcabouço para fazer esse monitoramento, estabelecer diretrizes para o uso dos recursos, tipos de ações que podem ser implementadas. O próprio movimento dos Governadores pelo Clima, que busca juntar os estados brasileiros para implementar as ações climáticas, está procurando montar esse arcabouço em nível nacional para que as unidades federativas possam ter, em conjunto, um portfólio de projetos que sejam submetidos a financiamento nas ações climáticas em suas regiões.

Edição: Aline Leal

Fonte: EBC Geral

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Ação Social

No primeiro ano de governo, 24,4 milhões deixam de passar fome

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Insegurança alimentar e nutricional grave cai 11,4 pontos percentuais em 2023, numa projeção a partir de informações da Escala Brasileira de Segurança Alimentar (EBIA), divulgada pelo IBGE com base na PNAD Contínua

Cozinhas solidárias, programas de transferência de renda, retomada do crescimento e valorização do salário mínimo compõem a lista de ações que contribuem para a redução da fome no país. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

No Brasil, 24,4 milhões de pessoas deixaram a situação de fome em 2023. O número de pessoas que enfrentam a insegurança alimentar e nutricional grave passou de 33,1 milhões em 2022 (15,5% da população) para 8,7 milhões em 2023 (4,1%). Isso representa queda de 11,4 pontos percentuais numa projeção feita a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada nesta quinta-feira, 25 de abril, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula” Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome

Na coletiva de imprensa para divulgação do estudo, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), avaliou que o avanço é resultado do esforço federal em retomar e reestruturar políticas de redução da fome e da pobreza. “O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula”, disse.

Para o ministro, o grande desafio agora é incluir essas 8,7 milhões de pessoas que ainda estão em insegurança alimentar grave em políticas de transferência de renda e de acesso à alimentação. “Vamos fortalecer ainda mais a Busca Ativa”, completou Dias, em referência ao trabalho para identificar e incluir em programas sociais as pessoas que mais precisam.

PESQUISA — As informações divulgadas nesta quinta são referentes ao quarto trimestre do ano passado. Foram obtidas por meio do questionário da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). O ministro lembrou que o governo passado não deu condições ao IBGE para realizar a pesquisa. Por isso, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) aplicou o EBIA com metodologia similar à do IBGE em 2022, quando o Brasil enfrentava a pandemia de Covid-19 e um cenário de desmonte de políticas, agravado por inflação de alimentos, desemprego, endividamento e ausência de estratégias de proteção social. Esse estudo chegou ao número de 33,1 milhões de pessoas em segurança alimentar grave na época.

A secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, lembra que mesmo em comparação aos resultados de 2018, último ano em que o IBGE fez o levantamento formal, os números apresentados nesta quinta são positivos. À época havia 4,6% de domicílios em insegurança alimentar grave. Agora são 4,1%, o segundo melhor resultado em toda a série histórica do EBIA.

“Estamos falando de mais de 20 milhões de pessoas que hoje conseguem acesso à alimentação e estão livres da fome. Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que vem sendo empreendida pelo governo, que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda”.

Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda” Valéria Burity, secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS 

Valéria também destacou como ponto importante da estratégia de combate à fome a retomada da governança de segurança alimentar pelo Governo Federal, com garantia de participação social. “O presidente Lula e o ministro Wellington foram responsáveis pela retomada do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional, a restituição do Conselho de Segurança Alimentar e da Câmara de Segurança Alimentar, com 24 ministérios que têm a missão de articular políticas dessa área. E, no fim do ano passado, foi realizada a Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional”, relatou.

A secretária nacional de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do MDS, Letícia Bartholo, ressaltou o retorno da parceria do governo com o IBGE. “Depois do período da fila do osso, em que o Brasil viveu muita miséria e fome, uma das primeiras ações do MDS nessa nova gestão foi buscar o IBGE para retomar a parceria e medir a insegurança alimentar dos brasileiros”, recordou.

SUBINDO – A proporção de domicílios em segurança alimentar atingiu nível máximo em 2013, (77,4%), tempo em que o país deixou o Mapa da Fome, mas caiu em 2017-2018 (63,3%). Em 2023, subiu para 72,4%. “Após a tendência de aumento da segurança alimentar nos anos de 2004, 2009 e 2013, os dados obtidos em 2017-2018 foram marcados pela redução no predomínio de domicílios particulares que tinham acesso à alimentação adequada. Em 2023 aconteceu o contrário, ou seja, houve aumento da proporção de domicílios em segurança alimentar, assim como redução na proporção de todos os graus de insegurança alimentar”, explicou André Martins, analista da pesquisa.

 

Dados apontam a evolução da segurança alimentar no Brasil

 

NOVO BOLSA FAMÍLIA — Entre os fatores que contribuíram para o avanço apontado pela pesquisa do IBGE, está o novo Bolsa Família, lançado em março de 2023, que garante uma renda mínima de R$ 600 por domicílio. O programa incluiu em sua cesta o Benefício Primeira Infância, um adicional de R$ 150 por criança de zero a seis anos na composição familiar. O novo modelo, com foco na primeira infância, reduziu a 91,7% a pobreza nesta faixa etária. A nova versão do programa inclui, ainda, um adicional de R$ 50 para gestantes, mães em fase de amamentação e crianças de sete a 18 anos.

BPC – O ministro Wellington Dias também ressaltou a proteção social gerada pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante um salário mínimo para pessoas aposentadas, pensionistas e com deficiência em situação de vulnerabilidade social. “Vale mencionar que o efeito econômico da Previdência e do BPC foi potencializado pelo esforço administrativo de reduzir as filas de espera para acesso aos benefícios”, disse.

MERENDA – Outra política de combate à pobreza e à fome, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) garante refeições diárias a 40 milhões de estudantes da rede pública em todo o país e foi reajustado em 2023, após cinco anos sem aumento.

PAA – O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é um dos 80 programas e ações que compõem a estratégia do Plano Brasil Sem Fome. Ele assegura produção e renda aos agricultores familiares, com compra direta dos produtos para serem distribuídos na rede socioassistencial, de saúde, educação e outros equipamentos públicos. Com a participação de 24 ministérios, o Plano cria instrumentos para promover a alimentação saudável contra diversas formas de má nutrição.

ECONOMIA – No cenário macroeconômico, houve um crescimento do PIB de 2,9% e o IPCA calculado para o grupo de alimentos caiu de 11,6% em 2022 para 1,03% em 2023. É a menor taxa desde 2017.  O mercado de trabalho ganhou força e a taxa de desemprego caiu de 9,6%, em 2022, para 7,8% no ano seguinte. A massa mensal de rendimento recebido de todos os trabalhadores alcançou R$ 295,6 bilhões, maior valor da série histórica da PNAD-C.

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