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Jacarezinho: pesquisa mostra que moradores relatam agressões policiais

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Uma pesquisa feita com moradores do Jacarezinho, na zona norte da capital Rio de Janeiro, sobre os cinco meses do programa Cidade Integrada, apontou que a maioria dos entrevistados se sente mais insegura, relata invasões de policiais a residências e testemunhou ou já foi vítima de agressão por parte dos agentes do Estado. O programa do governo fluminense teve início em janeiro deste ano no Jacarezinho e na Muzema, na zona oeste, e, desde então, policiais militares permanecem baseados nessas comunidades.

Os dados foram levantados pelo Observatório Cidade Integrada, realizado pelo Instituto de Defesa da População Negra, pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, pela Casa Fluminense e também pelo Laboratório de Dados e Narrativas sobre Favelas e Periferias (LabJaca). Foram entrevistados 387 moradores abordados enquanto transitavam na favela, uma amostragem considerada compatível pelos pesquisadores com base na população de 37 mil habitantes contabilizada pelo Censo de 2010. A margem de erro dos percentuais calculados é de 5%.

O relatório aponta que 69% dos entrevistados se sentem mais inseguros desde o início do programa, enquanto apenas 10% se sentem mais seguros. Para o relatório, os dados mostram que o Cidade Integrada fracassou.

“Além de falhar em entregar a maioria dos serviços prometidos pelo Estado para o bairro e interromper ou reduzir projetos iniciados, a ocupação do território pela Polícia Militar produziu maior sensação de insegurança na população”, diz o texto.

Procurada pela Agência Brasil, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que, desde o início do programa, foi instalado na comunidade um posto avançado da Corregedoria Geral da Corporação. 

“Durante esse período, oito denúncias foram registradas e todas estão sendo devidamente apuradas. Instalado numa área próxima à Clínica da Família, o posto permanece à disposição dos moradores”.  

Agressões

O estudo aponta que a ocorrência cotidiana de perseguições policiais, às vezes com tiros, fez com que os moradores tivessem mais cautela e afetou opções de lazer para 76% dos entrevistados. Mais da metade, 53%, consideram que festas na rua foram prejudicadas pelo Cidade Integrada, e 50% afirmam que o programa dificultou a possibilidade de deixar crianças brincando na rua. 

O relatório do Observatório Cidade Integrada aponta que policiais do programa já entraram na casa de 50% dos entrevistados sem um mandado judicial, e 25% das pessoas disseram que viram isso ocorrer com vizinhos.

Também há relatos de policiais que entraram nas casas dos moradores da comunidade e roubaram ou danificaram objetos pessoais. Segundo a pesquisa, 35% das pessoas testemunharam isso ocorrer, e 30% foram vítimas desses crimes. Menos de 15% dos entrevistados negaram que isso aconteça no Jacarezinho ou disseram nunca ter ouvido falar sobre. 

“Roubaram o perfume da minha irmã que custou de R$ 600 e uma garrafa de whisky”, disse um dos moradores, segundo o relatório.

“Acordei e eles estavam na minha casa. Não deixaram eu colocar uma roupa. Ficaram revistando minha casa comigo pelada. Além da violência deles entrarem sem poder na minha casa, também fiquei travada de medo por conta do olhar deles para o meu corpo”, relatou uma entrevistada.

O relatório indica que 10% dos entrevistados já foram agredidos por policiais do Cidade Integrada, e 45% já viram outras pessoas sendo agredidas. Além disso, em abordagens policiais, 23% disseram ter sido tratados com desrespeito. 

Na entrevista, 37% relataram já ter visto os policiais agredirem crianças e adolescentes, 10% viram agressões contra pessoas LGBTQI+ e 9% afirmam ter testemunhado abuso sexual contra mulheres. 

Sobre o futuro, 62% dos moradores declararam preferir que o programa acabe, enquanto 19% responderam que ele deve continuar de forma melhorada. O percentual que estaria satisfeito se ele continuasse como está foi de somente 1%.

Governo

Procurado pela Agência Brasil, o governo do estado diz que o programa Cidade Integrada vem, desde janeiro deste ano, levando ações de cidadania, desenvolvimento social e segurança para as comunidades do Jacarezinho e da Muzema e que a pesquisa Observatório Cidade Integrada não tem evidências. “O relatório divulgado pelo Observatório Cidade Integrada faz uma série de afirmativas sem citação de fontes e evidências, o que torna impossível sustentar os argumentos indicados. O documento não oferece referencial teórico, nem bibliografia, desqualificando-o como pesquisa científica.”

Entre os principais serviços executados no programa, segundo nota do governo, são a inauguração da Faetec de Manguinhos, o posto do Detran no Jacarezinho, a oferta de cursos de qualificação profissional do Desenvolve Mulher, para mulheres chefes de famílias, a regularização fundiária possibilitada pelo Casa Legal e a vistoria de unidades habitacionais realizadas pelo Na Régua.

O governo também ressalta que em pesquisa realizada pelo Datafolha, 59% dos entrevistados responderam ser a favor do programa Cidade Integrada. “O próprio relatório do Observatório Cidade Integrada recomenda que os programas sociais e serviços públicos oferecidos pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro sejam mantidos.”

Edição: Aline Leal

Fonte: EBC Geral

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Ação Social

No primeiro ano de governo, 24,4 milhões deixam de passar fome

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Insegurança alimentar e nutricional grave cai 11,4 pontos percentuais em 2023, numa projeção a partir de informações da Escala Brasileira de Segurança Alimentar (EBIA), divulgada pelo IBGE com base na PNAD Contínua

Cozinhas solidárias, programas de transferência de renda, retomada do crescimento e valorização do salário mínimo compõem a lista de ações que contribuem para a redução da fome no país. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

No Brasil, 24,4 milhões de pessoas deixaram a situação de fome em 2023. O número de pessoas que enfrentam a insegurança alimentar e nutricional grave passou de 33,1 milhões em 2022 (15,5% da população) para 8,7 milhões em 2023 (4,1%). Isso representa queda de 11,4 pontos percentuais numa projeção feita a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada nesta quinta-feira, 25 de abril, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula” Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome

Na coletiva de imprensa para divulgação do estudo, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), avaliou que o avanço é resultado do esforço federal em retomar e reestruturar políticas de redução da fome e da pobreza. “O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula”, disse.

Para o ministro, o grande desafio agora é incluir essas 8,7 milhões de pessoas que ainda estão em insegurança alimentar grave em políticas de transferência de renda e de acesso à alimentação. “Vamos fortalecer ainda mais a Busca Ativa”, completou Dias, em referência ao trabalho para identificar e incluir em programas sociais as pessoas que mais precisam.

PESQUISA — As informações divulgadas nesta quinta são referentes ao quarto trimestre do ano passado. Foram obtidas por meio do questionário da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). O ministro lembrou que o governo passado não deu condições ao IBGE para realizar a pesquisa. Por isso, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) aplicou o EBIA com metodologia similar à do IBGE em 2022, quando o Brasil enfrentava a pandemia de Covid-19 e um cenário de desmonte de políticas, agravado por inflação de alimentos, desemprego, endividamento e ausência de estratégias de proteção social. Esse estudo chegou ao número de 33,1 milhões de pessoas em segurança alimentar grave na época.

A secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, lembra que mesmo em comparação aos resultados de 2018, último ano em que o IBGE fez o levantamento formal, os números apresentados nesta quinta são positivos. À época havia 4,6% de domicílios em insegurança alimentar grave. Agora são 4,1%, o segundo melhor resultado em toda a série histórica do EBIA.

“Estamos falando de mais de 20 milhões de pessoas que hoje conseguem acesso à alimentação e estão livres da fome. Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que vem sendo empreendida pelo governo, que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda”.

Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda” Valéria Burity, secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS 

Valéria também destacou como ponto importante da estratégia de combate à fome a retomada da governança de segurança alimentar pelo Governo Federal, com garantia de participação social. “O presidente Lula e o ministro Wellington foram responsáveis pela retomada do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional, a restituição do Conselho de Segurança Alimentar e da Câmara de Segurança Alimentar, com 24 ministérios que têm a missão de articular políticas dessa área. E, no fim do ano passado, foi realizada a Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional”, relatou.

A secretária nacional de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do MDS, Letícia Bartholo, ressaltou o retorno da parceria do governo com o IBGE. “Depois do período da fila do osso, em que o Brasil viveu muita miséria e fome, uma das primeiras ações do MDS nessa nova gestão foi buscar o IBGE para retomar a parceria e medir a insegurança alimentar dos brasileiros”, recordou.

SUBINDO – A proporção de domicílios em segurança alimentar atingiu nível máximo em 2013, (77,4%), tempo em que o país deixou o Mapa da Fome, mas caiu em 2017-2018 (63,3%). Em 2023, subiu para 72,4%. “Após a tendência de aumento da segurança alimentar nos anos de 2004, 2009 e 2013, os dados obtidos em 2017-2018 foram marcados pela redução no predomínio de domicílios particulares que tinham acesso à alimentação adequada. Em 2023 aconteceu o contrário, ou seja, houve aumento da proporção de domicílios em segurança alimentar, assim como redução na proporção de todos os graus de insegurança alimentar”, explicou André Martins, analista da pesquisa.

 

Dados apontam a evolução da segurança alimentar no Brasil

 

NOVO BOLSA FAMÍLIA — Entre os fatores que contribuíram para o avanço apontado pela pesquisa do IBGE, está o novo Bolsa Família, lançado em março de 2023, que garante uma renda mínima de R$ 600 por domicílio. O programa incluiu em sua cesta o Benefício Primeira Infância, um adicional de R$ 150 por criança de zero a seis anos na composição familiar. O novo modelo, com foco na primeira infância, reduziu a 91,7% a pobreza nesta faixa etária. A nova versão do programa inclui, ainda, um adicional de R$ 50 para gestantes, mães em fase de amamentação e crianças de sete a 18 anos.

BPC – O ministro Wellington Dias também ressaltou a proteção social gerada pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante um salário mínimo para pessoas aposentadas, pensionistas e com deficiência em situação de vulnerabilidade social. “Vale mencionar que o efeito econômico da Previdência e do BPC foi potencializado pelo esforço administrativo de reduzir as filas de espera para acesso aos benefícios”, disse.

MERENDA – Outra política de combate à pobreza e à fome, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) garante refeições diárias a 40 milhões de estudantes da rede pública em todo o país e foi reajustado em 2023, após cinco anos sem aumento.

PAA – O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é um dos 80 programas e ações que compõem a estratégia do Plano Brasil Sem Fome. Ele assegura produção e renda aos agricultores familiares, com compra direta dos produtos para serem distribuídos na rede socioassistencial, de saúde, educação e outros equipamentos públicos. Com a participação de 24 ministérios, o Plano cria instrumentos para promover a alimentação saudável contra diversas formas de má nutrição.

ECONOMIA – No cenário macroeconômico, houve um crescimento do PIB de 2,9% e o IPCA calculado para o grupo de alimentos caiu de 11,6% em 2022 para 1,03% em 2023. É a menor taxa desde 2017.  O mercado de trabalho ganhou força e a taxa de desemprego caiu de 9,6%, em 2022, para 7,8% no ano seguinte. A massa mensal de rendimento recebido de todos os trabalhadores alcançou R$ 295,6 bilhões, maior valor da série histórica da PNAD-C.

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