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Nora Ney, 100 anos: estrela do rádio inovou com “sambolero”

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Como se declamasse uma poesia, como se contasse um segredo. Sussurrava e desfilava a potência vocal em diferentes tons. A cantora Nora Ney (1922 – 2003) fazia o que bem entendia com aquele vozeirão. “Ela inovou o tempo inteiro e tinha um jeito de cantar diferente”, afirma o pesquisador Raphael Farias. Para ele, a artista fazia um “sambolero”.

Farias prepara, junto a outros autores, um dossiê para celebrar o centenário da cantora que entoava o sucesso Ninguém me Ama (1952), e que se transformou em uma ídola nacional. O país a amava e parava diante de um aparelho, no horário nobre, às 21h, para ouvir a rainha na Rádio Nacional a partir de 1953.

O dossiê deve ser publicado pelo Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural da Unicamp (CIDDIC). O trabalho reúne pesquisadores de diferentes universidades que estudam música popular, ou mesmo da música de concerto e também historiadores da música popular brasileira, em distintas áreas de conhecimento. 

“Ninguém me ama
Ninguém me quer
Ninguém me chama
De “meu amor”
A vida passa
E eu sem ninguém
E quem me abraça
Não me quer bem (…)”

Ouça aqui reportagem na Radioagência Nacional

 

Gêneros

Segundo o pesquisador, Nora Ney foi fundamental para a inovação do gênero samba-canção e fez escola na música brasileira. “Ela ficou marcada tanto pelo samba-canção quanto pelo bolero. Na minha pesquisa, eu adotei o termo sambolero. Publiquei inclusive alguns textos utilizando esse termo”. Nora, segundo avalia, ficaria na música brasileira entre esses dois gêneros.

“Ela tinha um estilo próximo ao estadunidense. Inclusive, ela começou na rádio cantando o repertório em inglês. Ela trazia um modo de cantar mais próximo ao microfone e sussurrava alguns trechos”. Para o pesquisador, o estilo de Nora Ney pode ser compreendido como samba-canção ou mesmo um “sambolero”.  “Na década de 1950, sobretudo, boa parte da produção que é chamada de samba-canção é muito próxima do bolero mexicano.

No caso da Nora Ney, ela tinha como uma das inspirações a cantora mexicana Elvira Rios, que era uma cantora de bolero e tinha um timbre de voz grave como da Nora”, afirma o pesquisador que desenvolveu mestrado sobre esses gêneros musicais nas décadas de 1940 e 1950.

Nora Ney Nora Ney

Sentadas, as estrelas do rádio Nora Ney e Ângela Maria. Em pé, o radialista Gerdal dos Santos – Acervo EBC/Rádio Nacional.

Paixões 

Ele explica que Nora Ney tratava de temáticas como o amor, da passionalidade, do abandono e da idealização. “Naquele momento, dos anos 1940 e 1950, eram músicas que tratavam muito dessas questões amorosas”.

O pesquisador considera que Nora Ney, a par de se destacar pelas canções de amor, ela, em parceria com o marido, o também cantor Jorge Goulart (1926 – 2012), revelou preocupação com os direitos da mulher. “A gente fala da da música de fossa, mas encontramos críticas ao machismo também”.

Preocupado com a preservação da memória da obra da artista, o pesquisador criou grupo em redes sociais para que outros pesquisadores (e até fãs) possam trocar arquivos e informações sobre a cantora.

“Acho isso importante para que as memórias de artistas como ela não fiquem soterradas sob outros gêneros musicais classificados como MPB.  A página no Facebook  e no Instagram têm atraído pessoas de diferentes faixas etárias. “Têm um viés mais memorialista”.

A rainha

Ano de 1953. Expectativa total dos ouvintes para as 21h, horário nobre da rádio. A espera era para estar no ar o programa Quando Canta o Brasil, pela Rádio Nacional. “Agora, ouçamos Nora Ney, com o samba de Lupicínio Rodrigues, Aves Daninhas”. E surgia a voz da “rainha do rádio” que todos esperavam…

“Eu não quero falar com ninguém

Eu prefiro ir pra casa dormir

Se eu vou conversar com alguém

As perguntas se vão repetir

Quando eu estou em paz com meu bem

Ninguém por ele vem perguntar

Mas sabendo que andamos brigados

Esses malvados querem me torturar” (…)
 

Ouça a canção na gravação original da Rádio Nacional

“Quando canta o Brasil” – Acervo EBC/Rádio Nacional.

O amor ou mesmo “a dor de amor” estava na voz da recém-contratada da rádio, desfilando o samba-canção com o timbre que a celebrizou. Nora Ney (nome artístico de Iracema de Souza Ferreira) era uma estrela consagrada aos 31 anos de idade. A carioca conferia ainda mais sucesso para as composições de Lupicínio Rodrigues, Dorival Caymmi, Ataulfo Alves e Antônio Maria.

Nora Ney nasceu há 100 anos (20 de março de 1922) no Rio de Janeiro. Morreu em 2003, aos 82 anos de idade. Entre tantas canções que ganharam a sua interpretação, Ninguém me Ama, de Antônio Maria e Fernando Lobo ficou marcante. “Sem dúvidas, essa música é o cartão de visitas dela. Quando ouvimos o nome da Nora, pensamos na música”, afirmou a cantora Ellen de Lima, em entrevista à Agência Brasil

Ellen, hoje aos 83 anos, lembra de Nora Ney como uma ídola e referência. Ellen foi cantora da Rádio Nacional e se apresentou com Nora na década de 1950. “Um dia ela me disse que eu tinha muito talento”. Ellen se emocionou com as palavras da estrela que era bastante “séria e concentrada” em tudo o que fazia. “Ela era uma pessoa muito eh muito apurada no gosto”.

Ouça mais de Nora Ney nas Rádios EBC

Edição: Alessandra Esteves

Fonte: EBC Geral

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“Caminhos assistenciais” do Governo Federal liberam rodovias para garantir abastecimento do Rio Grande do Sul

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Prioridade é a liberação ágil de trechos essenciais para assegurar o fluxo de veículos com suprimentos, comida, oxigênio e combustível

Com mais de 400 cidades atingidas pelo alto volume de chuvas que caiu sobre o território gaúcho, o Governo Federal desenvolveu um plano emergencial para reestabelecer o fluxo viário em rotas estratégicas para assegurar o atendimento da população e impedir o desabastecimento de itens essenciais para a população do Rio Grande do Sul.

“Esses caminhos assistenciais, como estamos chamando, são para garantir salvamento e abastecimento do estado, sobretudo com oxigênio e remédio, comida e água, além da chegada de combustível, para não haver outras paralisações nesta crise e intensificarem ainda mais o sofrimento do povo gaúcho neste momento”, informou o ministro dos Transportes, Renan Filho. “É um plano de trabalho com prioridades a serem adotadas em 48 horas”.

Para isso, são usados maquinários pesados, como tratores, escavadeiras, guindastes e caminhões. Há cerca de 200 equipamentos e 600 homens atuando diretamente no estado. Em alguns pontos de rompimento de trechos de estrada, a solução é preencher as brechas com pedras para permitir a passagem dos veículos. Um dos trechos liberados é a BR 290, que liga Porto Alegre a Santa Maria e segue até a fronteira com a Argentina, por onde passa 30% do comércio internacional do país. Equipes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), de concessionárias e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) seguem no para restabelecer o fluxo viário.

“Liberamos o fluxo na BR 290. O momento é de trabalhar pela preservação da vida, reencontro das famílias e reconstrução do Rio Grande do Sul. Nesses caminhos serão permitidos transporte de alimentos, remédios, oxigênio, combustíveis, resgates e pacientes em ambulâncias”, comentou o ministro.

Já estão liberados também trechos das BRs-116/RS, entre Estância Velha a Nova Petrópolis; de Vacaria a Campestre da Serra; e de Caxias a São Marcos. Também foi restabelecido o fluxo na BR-392/RS, de Santa Maria a Caçapava do Sul, possibilitando o acesso ao Porto de Rio Grande, beneficiando a região de Pelotas. Até esta quarta-feira (8/5), serão realizadas ainda as seguintes liberações: na BR-116/RS, sentido norte do estado, no trecho do Viaduto da Scharlau, e a ponte sobre o Rio dos Sinos.

 

Na BR-470, passagem liberada de Carlos Barbosa a Montenegro; na BR-386, a ponte sobre o rio Taquari, em Estrela e Lajeado também teve o fluxo retomado, assim como na BR-290, de Eldorado a Santa Maria, com construção de um bueiro. Já no caso da BR-158, de Santa Maria a Cruz Alta, o trânsito ainda ocorre com escolta, apenas para passagens de veículos emergenciais, pois há risco no trajeto. Trânsito liberado também na BR-448, a Rodovia do Parque.

Para o ministro, chama a atenção nesse desastre a amplitude, a velocidade com que as águas subiram e a demora no escoamento, o que dificulta o dimensionamento da crise e o atendimento. “A prioridade agora é salvar vidas, liberar vias para passagem de equipes de resgate e pronto socorro e, depois, pensarmos na reconstrução”, listou.

Rodovias liberadas e em processo de liberação

1 BILHÃO – Em reunião com parlamentares na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, o ministro ainda informou que cerca de R$ 1 bilhão serão destinados pelo Governo Federal à reconstrução de rodovias federais, além do orçamento previamente destinado ao estado de R$ 1,7 bilhão.

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