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Ballet Manguinhos busca doadores para continuar trabalho

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O Ballet Manguinhos, que completa dez anos de atividades este ano, está em busca de patrocínios para não fechar. Criada em 2012 pela educadora física Daiana Ferreira na comunidade do mesmo nome, zona norte do Rio de Janeiro, com o objetivo de tirar meninas das ruas, a organização não governamental já atendeu mais de 4 mil crianças e jovens nessa década de funcionamento. Quando o projeto nasceu, atendia apenas  70 alunos.

No primeiro semestre deste ano, termina o contrato firmado por Daiana em 2018 com a fundação social norte-americana The Secular Society (TSS), sediada no estado da Virginia, e a organização não governamental (ONG) Ballet Manguinhos ainda não tem nova parceria para garantir a continuidade dos trabalhos. Graças ao patrocínio da TSS, o Ballet Manguinhos ganhou sede própria, dentro da comunidade, instalada em um prédio com 600 metros quadrados.

Sua fundadora, Daiana Ferreira, morreu no ano passado devido a complicações da covid-19. A presidente da ONG, Carine Lopes, disse que o projeto conta atualmente com 410 crianças e adolescentes, que dependem de recursos para continuar os estudos de dança no local. Outros 700 jovens e crianças estão na fila de espera.

Adoção

Carine está em busca de um patrocinador, em sintonia com o propósito do Ballet de oferecer alternativas socioculturais para moradores da favela de Manguinhos. Para isso, foi criada a campanha Adote uma Bailarina, cujo valor da contribuição anual custeia o que a ONG oferece às alunas dentro do ambiente do balé, que são as aulas, o uniforme, o figurino. “Tudo que ela precisa para realizar e manter as aulas de balé”. Qualquer pessoa pode colaborar financeiramente na plataforma de doações onlineDoar para que uma bailarina do projeto tenha os recursos necessários para seguir com as atividades propostas. Os padrinhos recebem um certificado e atualizações mensais sobre os alunos ‘adotados’. “Pedimos sempre que os doadores se tornem fixos, para que a gente consiga fazer um planejamento anual”.

Segundo Carine, ter um patrocínio fixo dá estabilidade para que a ONG consiga planejar os gastos, administrar todas as contas e questões que envolvem, inclusive, a manutenção de 15 funcionários. “Quanto mais investimentos, mais trabalho a gente pode realizar”.

Outros patrocínios para a manutenção das atividades são buscados entre empresas que podem repassar parte do imposto devido de ICMS ou ISS, por meio das leis de incentivo à cultura, entre elas a Lei Rouanet. “Dependendo da lei, as empresas podem repassar entre 4% e 10% para um projeto social, uma ONG como nós. Em vez de pagar ao governo do estado, ela repassa esse imposto para manutenção do projeto e para que o trabalho continue sendo executado”.

Impacto

Carine Lopes informou que a formação de um bailarino do Ballet Manguinhos leva em torno de oito a nove anos. Os alunos entram, em geral, aos 6 anos de idade e vão até 16 ou 17 anos. Noventa e oito por cento das crianças e adolescentes atendidos são do público feminino. “O projeto tem uma questão cultural muito forte no território de Manguinhos, que é a gravidez na adolescência. Como a maioria do nosso público é feminino, a gente já conseguiu fazer um medidor de impacto de acordo com o trabalho que realizamos, já tendo alcançado 1% de gravidez em todas as nossas alunas atendidas. Então, o impacto para o território é incrível”, comemorou a presidente da ONG.

Exposição Ballet Urbano Manguinhos - Edital Lei Aldir Blanc para Associação Ballet Manguinhos Exposição Ballet Urbano Manguinhos - Edital Lei Aldir Blanc para Associação Ballet Manguinhos

Exposição Ballet Urbano Manguinhos – Edital Lei Aldir Blanc para Associação Ballet Manguinhos – Ana Maria Silva/Direitos reservados

Carine admitiu que a adesão dos meninos ainda é muito pequena, em razão do preconceito que é muito enraizado na comunidade com relação ao balé para homens. “No território de favela, isso se torna um pouco pior. Os meninos não têm abertura para participar, nem flexibilidade da comunidade. Isso ainda é muito atrelado à sexualidade. Quem faz balé é homossexual. Ainda tem esse preconceito bem forte”, comentou.

A presidente reconheceu que nem todos os alunos da ONG serão bailarinos. “O que a gente realiza, na verdade, é uma transformação social, mudando as gerações dessas famílias (atendidas). As famílias levam as meninas para o Ballet Manguinhos, para terem alguma atividade e, quando elas entram, se descobrem enquanto mulheres, enquanto pessoas e cidadãs que precisam estudar, ter uma vida, uma carreira”. Carine afirmou que por meio das filhas, a família também vai se transformando. “As maiores histórias das meninas que a gente tem lá são de transformação social. Há um número ainda pequeno de meninas que quiseram seguir a carreira de bailarina”. Carine reiterou que o maior impacto gerado pela ONG no território é mudar a situação de pobreza e o futuro das alunas.

O Ballet Manguinhos oferece também aulas de circo e cursos de capacitação profissional, de informática; traz médicos e especialistas para falarem de saúde e empoderamento feminino. ”É a construção dessa cidadã que chega ainda criança, e a gente começa a fazer essa construção para que ela voe não só como bailarina, mas em outras profissões, o que pode mudar a vida da família”.

Exemplo

Uma das alunas atendidas pelo Ballet Manguinhos é Vitória Gomes de Carvalho, de 16 anos. Ela frequenta a ONG há cerca de oito anos. A partir da entrada na organização a jovem aprendeu a se impor como pessoa, a ter opinião e a respeitar a opinião dos outros. “Na família, aprendi a ter mais amizade, ser mais companheira, a ajudar, a ser eu mesma, a me conhecer, a me explicar”. Principalmente com a mãe, Vitória, aprendeu a não ter medo de nada, “nem de ser quem sou”.

A jovem de Manguinhos pretende seguir a carreira de bailarina, não só no balé clássico, mas em outros tipos de dança. Ela lamentou a existência do preconceito contra os meninos fazerem balé. “Eu acho lindo ver homens dançando. Na minha opinião, não tem nada a ver isso (preconceito). Eu sou contra esses pensamentos”.

Um dos sonhos de Vitória é fazer concurso para entrar na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, pertencente à Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro. “Tenho que me preparar primeiro. Vai ser uma boa”, afirmou.

Edição: Graça Adjuto

Fonte: EBC Geral

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Ação Social

No primeiro ano de governo, 24,4 milhões deixam de passar fome

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Insegurança alimentar e nutricional grave cai 11,4 pontos percentuais em 2023, numa projeção a partir de informações da Escala Brasileira de Segurança Alimentar (EBIA), divulgada pelo IBGE com base na PNAD Contínua

Cozinhas solidárias, programas de transferência de renda, retomada do crescimento e valorização do salário mínimo compõem a lista de ações que contribuem para a redução da fome no país. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

No Brasil, 24,4 milhões de pessoas deixaram a situação de fome em 2023. O número de pessoas que enfrentam a insegurança alimentar e nutricional grave passou de 33,1 milhões em 2022 (15,5% da população) para 8,7 milhões em 2023 (4,1%). Isso representa queda de 11,4 pontos percentuais numa projeção feita a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada nesta quinta-feira, 25 de abril, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula” Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome

Na coletiva de imprensa para divulgação do estudo, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), avaliou que o avanço é resultado do esforço federal em retomar e reestruturar políticas de redução da fome e da pobreza. “O amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome, a retomada do crescimento da economia e a valorização do salário mínimo são alguns fatores que recolocam o país em lugar de destaque da agenda de combate à fome no mundo. Tirar o Brasil novamente do Mapa da Fome é do presidente Lula”, disse.

Para o ministro, o grande desafio agora é incluir essas 8,7 milhões de pessoas que ainda estão em insegurança alimentar grave em políticas de transferência de renda e de acesso à alimentação. “Vamos fortalecer ainda mais a Busca Ativa”, completou Dias, em referência ao trabalho para identificar e incluir em programas sociais as pessoas que mais precisam.

PESQUISA — As informações divulgadas nesta quinta são referentes ao quarto trimestre do ano passado. Foram obtidas por meio do questionário da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). O ministro lembrou que o governo passado não deu condições ao IBGE para realizar a pesquisa. Por isso, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) aplicou o EBIA com metodologia similar à do IBGE em 2022, quando o Brasil enfrentava a pandemia de Covid-19 e um cenário de desmonte de políticas, agravado por inflação de alimentos, desemprego, endividamento e ausência de estratégias de proteção social. Esse estudo chegou ao número de 33,1 milhões de pessoas em segurança alimentar grave na época.

A secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, lembra que mesmo em comparação aos resultados de 2018, último ano em que o IBGE fez o levantamento formal, os números apresentados nesta quinta são positivos. À época havia 4,6% de domicílios em insegurança alimentar grave. Agora são 4,1%, o segundo melhor resultado em toda a série histórica do EBIA.

“Estamos falando de mais de 20 milhões de pessoas que hoje conseguem acesso à alimentação e estão livres da fome. Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que vem sendo empreendida pelo governo, que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda”.

Esses resultados mostram o acerto de uma estratégia de enfrentamento à fome que é apoiada tanto em programas sociais como na condução de uma política econômica que gera crescimento econômico, reduz desigualdades e gera acesso a emprego e renda” Valéria Burity, secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS 

Valéria também destacou como ponto importante da estratégia de combate à fome a retomada da governança de segurança alimentar pelo Governo Federal, com garantia de participação social. “O presidente Lula e o ministro Wellington foram responsáveis pela retomada do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional, a restituição do Conselho de Segurança Alimentar e da Câmara de Segurança Alimentar, com 24 ministérios que têm a missão de articular políticas dessa área. E, no fim do ano passado, foi realizada a Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional”, relatou.

A secretária nacional de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do MDS, Letícia Bartholo, ressaltou o retorno da parceria do governo com o IBGE. “Depois do período da fila do osso, em que o Brasil viveu muita miséria e fome, uma das primeiras ações do MDS nessa nova gestão foi buscar o IBGE para retomar a parceria e medir a insegurança alimentar dos brasileiros”, recordou.

SUBINDO – A proporção de domicílios em segurança alimentar atingiu nível máximo em 2013, (77,4%), tempo em que o país deixou o Mapa da Fome, mas caiu em 2017-2018 (63,3%). Em 2023, subiu para 72,4%. “Após a tendência de aumento da segurança alimentar nos anos de 2004, 2009 e 2013, os dados obtidos em 2017-2018 foram marcados pela redução no predomínio de domicílios particulares que tinham acesso à alimentação adequada. Em 2023 aconteceu o contrário, ou seja, houve aumento da proporção de domicílios em segurança alimentar, assim como redução na proporção de todos os graus de insegurança alimentar”, explicou André Martins, analista da pesquisa.

 

Dados apontam a evolução da segurança alimentar no Brasil

 

NOVO BOLSA FAMÍLIA — Entre os fatores que contribuíram para o avanço apontado pela pesquisa do IBGE, está o novo Bolsa Família, lançado em março de 2023, que garante uma renda mínima de R$ 600 por domicílio. O programa incluiu em sua cesta o Benefício Primeira Infância, um adicional de R$ 150 por criança de zero a seis anos na composição familiar. O novo modelo, com foco na primeira infância, reduziu a 91,7% a pobreza nesta faixa etária. A nova versão do programa inclui, ainda, um adicional de R$ 50 para gestantes, mães em fase de amamentação e crianças de sete a 18 anos.

BPC – O ministro Wellington Dias também ressaltou a proteção social gerada pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante um salário mínimo para pessoas aposentadas, pensionistas e com deficiência em situação de vulnerabilidade social. “Vale mencionar que o efeito econômico da Previdência e do BPC foi potencializado pelo esforço administrativo de reduzir as filas de espera para acesso aos benefícios”, disse.

MERENDA – Outra política de combate à pobreza e à fome, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) garante refeições diárias a 40 milhões de estudantes da rede pública em todo o país e foi reajustado em 2023, após cinco anos sem aumento.

PAA – O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é um dos 80 programas e ações que compõem a estratégia do Plano Brasil Sem Fome. Ele assegura produção e renda aos agricultores familiares, com compra direta dos produtos para serem distribuídos na rede socioassistencial, de saúde, educação e outros equipamentos públicos. Com a participação de 24 ministérios, o Plano cria instrumentos para promover a alimentação saudável contra diversas formas de má nutrição.

ECONOMIA – No cenário macroeconômico, houve um crescimento do PIB de 2,9% e o IPCA calculado para o grupo de alimentos caiu de 11,6% em 2022 para 1,03% em 2023. É a menor taxa desde 2017.  O mercado de trabalho ganhou força e a taxa de desemprego caiu de 9,6%, em 2022, para 7,8% no ano seguinte. A massa mensal de rendimento recebido de todos os trabalhadores alcançou R$ 295,6 bilhões, maior valor da série histórica da PNAD-C.

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