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“A dependência tecnológica do adolescente é algo que tem preocupado”

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“A saúde dos filhos deve ser cuidada ao longo de toda a fase de desenvolvimento. Não só nos primeiros anos de vida”, ressalta a hebiatra Denise O’Campos | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

O cuidado com a saúde dos filhos em fase de crescimento passa não só pelo pediatra. Deve prosseguir principalmente na adolescência, quando as mudanças no corpo acontecem em função da puberdade. Para atender esse público, a medicina conta com um especialista: o hebiatra. Criada ainda na década 70, a especialidade tem foco no atendimento de saúde de meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos.

A população do Distrito Federal é composta por aproximadamente 500 mil adolescentes. Uma fase complexa da vida do ser humano, em que as mudanças não são poucas. E o hebiatra está preparado para lidar com temas como o estirão de crescimento, a obesidade, a maturação sexual, entre outros. E tem mais: o hebiatra é capacitado a tratar as transformações psicossociais comuns na vida dos jovens.

Em entrevista à Agência Brasília, a hebiatra da Secretaria de Saúde Denise O’Campos revela que as unidades básicas de saúde oferecem todas as vacinas voltadas para esta faixa etária e ações educativas dentro do programa Saúde na Escola, de âmbito nacional. “É necessário se conscientizar que a saúde dos filhos deve ser cuidada ao longo de toda a fase de desenvolvimento. Não só nos primeiros anos de vida”, comenta.

Como é o trabalho do hebiatra e qual faixa etária ele atende?

Nós, hebiatras, acompanhamos o crescimento e desenvolvimento não só físico, mas psicossocial do adolescente. Fazemos uma abordagem sobre a saúde sexual e reprodutiva, avaliação da saúde mental, além da detecção e acompanhamento de doenças crônicas. Doenças crônicas são o diabetes, o lúpus, por exemplo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a faixa de idade do adolescente vai dos 10 aos 19 anos. Esse é o perfil dos nossos pacientes. O médico hebiatra atua não só junto ao adolescente, mas também interage com seus cuidadores – pais ou responsáveis – e com a escola.

Existe um atendimento específico e programas na rede pública de saúde para os adolescentes?

Na Secretaria de Saúde se trabalha com modelo de atenção baseado na Estratégia Saúde da Família. Então, o atendimento de adolescentes é feito normalmente nas unidades básicas de saúde (UBSs). Lá, ele encontra outras especialidades médicas e vacinas para sua faixa etária. E temos também o programa ‘Saúde na Escola’, que existe desde 2007 e que consiste numa parceria entre as UBSs e as escolas. São promovidas ações educativas, palestras e visitas de profissionais aos colégios para tratar da saúde sexual, reprodutiva, mental, da alimentação, entre outros.

Confira o vídeo da entrevista:

Quais vacinas esse público precisa tomar?

Temos a da HPV (infecção sexualmente transmissível), que é a ‘vacina da adolescência’. Ela é aplicada em meninas de 9 a 14 anos e meninos com idade entre 11 e 14 anos. Além dela, é recomendada a vacina contra a hepatite B. Esta é feita na infância, mas se um exame detectar que o jovem ainda não está imunizado, ele toma novamente. Outra é o reforço da tríplice viral que previne contra a rubéola, sarampo e caxumba e o reforço da meningocócica ACWY [previne várias formas da meningite]. E a do tétano, que se toma a cada dez anos: a primeira é aplicada com 4 anos e a segunda quando o jovem chega aos 14 anos. Esses imunizantes podem ser encontrados em grande parte das UBSs do Distrito Federal.

Quais os principais temas que afligem o adolescente?

Os garotos se preocupam muito com o crescimento, a parte da estatura. Já as meninas estão mais antenadas na questão da obesidade e do sobrepeso. O hebiatra também oferece orientações em relação à sexualidade, já que são muitas dúvidas. Alguns não possuem abertura para um diálogo com os pais e outros procuram informações na internet, né? Quando informamos na consulta que é um um diálogo sigiloso, que tem confidencialidade, isso motiva o adolescente a se abrir mais. Outro assunto muito tratado é a acne e dúvidas sobre a menstruação. O profissional faz uma avaliação da situação da saúde do jovem, prescreve medicações quando necessário e, em outras situações, encaminha para análise de especialistas.

Em uma fase de tantas mudanças na vida do adolescente, como é o cuidado com a saúde mental?

Os adolescentes de hoje estão sofrendo de ansiedade, insônia, depressão e observa-se ainda automutilação e tentativa de suicídio. Muitos não estão querendo mais brincar, sair para os espaços sociais. Ficam mais em casa ‘vidrados’ nas telas ou no videogame. Então, isso é uma grande preocupação. A dependência tecnológica do adolescente é algo que tem preocupado. É essencial avaliar se o adolescente está tendo algum sofrimento psíquico que pode gerar esses comportamentos. Não só o contexto familiar, mas perguntar como está o rendimento escolar, as relações de amizade.

Como motivar os jovens a serem saudáveis?

Orientamos os gestores, por exemplo, das unidades básicas. É necessário entender que a UBS tem de ser um espaço atrativo para o jovem: um local de promoção à saúde e não de atenção à doença. Um lugar em que ele possa socializar com outros adolescentes. Dessa forma, ele vai começar a procurar mais os postos de saúde. Com relação aos pais, é preciso, primeiramente, muito diálogo. Observamos que quando a criança se torna adolescente os pais deixam de conversar, diminuem o carinho, não estão mais tão próximos. Mas, é importante frisar que a pessoa está passando por um processo grande de mudanças. O adolescente é reativo, questionador. E às vezes, os pais identificam isso como um problema de relacionamento com eles. Esse comportamento reativo é uma ‘causa adolescente’, é uma causa dele. Não uma ‘causa’ do adulto.

E também não se deve deixar de visitar o hebiatra …

Sim. Digo sempre que as famílias não devem deixar de levar seus filhos ao médico depois dos dois anos de idade. Todo mundo leva o filho ao pediatra, faz a puericultura até os dois anos de idade. Ele é vacinado, vai às consultas. Depois de dois anos já era, né? Então, é necessário essa conscientização de que a gente precisa cuidar da saúde dos filhos ao longo de toda a fase de desenvolvimento.

Fonte: Governo DF

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Programa Cisternas avança e promove cidadania às famílias do Semiárido nordestino

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Nova etapa de execução é concretizada via convênio entre MDS e Consórcio Nordeste, no valor de R$ 311 milhões. Na área rural de Juazeiro (BA), os moradores estão otimistas com as novas possibilidades trazidas pelo acesso à água

No Semiárido nordestino, um sonho começa a ganhar forma. A retomada do Programa Cisternas vem enchendo a casa das famílias de esperança. Em meio às obras de uma cisterna para a produção de alimentos em sua propriedade, Jamile da Silva, 26 anos, faz planos para o futuro. A tecnologia de acesso à água, combinada com o recurso do Programa Fomento Rural, vai proporcionar a ela uma renda extra.

Essa cisterna vai me ajudar na atividade produtiva, vou saber que estou consumindo alimento saudável. E o Fomento vai me dar uma garantia de ter uma criação melhor, que eu preciso também, de caprinos e ovinos” Jamile da Silva, produtora rural

A produtora mora na comunidade Pau Preto, zona rural de Juazeiro, ao norte da Bahia. “O Programa Cisternas é perfeito”, definiu Jamile, sorridente. São mais de 42 mil cisternas contratadas, a partir de convênio entre o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e o Consórcio Nordeste. A parceria, formalizada em maio deste ano, contempla os nove estados nordestinos.

O investimento é de quase R$ 300 milhões do Governo Federal, por meio do MDS, e de outros R$ 12 milhões de contrapartida dos estados. O convênio prevê a instalação de 39 mil tecnologias de acesso à água para consumo humano e 2,89 mil sistemas para consumo animal e produção de alimentos. As famílias que recebem as cisternas para a produção de alimentos também são inseridas no Programa Fomento Rural, em um repasse de R$ 13,3 milhões pelo acordo.

Além de oferecer assistência técnica, o Fomento Rural transfere o valor de R$ 4,6 mil diretamente para os beneficiados. São grandes conquistas para Jamile da Silva, que pensa em alternativas de expansão produtiva, a partir do recurso, da cisterna concluída e da capacitação para trabalhar em novas culturas. Ela também quer melhorar as condições do local onde cria caprinos e ovinos, a começar pela construção de um teto para os animais.

“Essa cisterna vai me ajudar na atividade produtiva, vou saber que estou consumindo alimento saudável. E o Fomento vai me dar uma garantia de ter uma criação melhor, que eu preciso também, de caprinos e ovinos”, projetou Jamile, enquanto acompanha em detalhes o processo de construção da estrutura. Nascida e criada na zona rural, é nessa mesma terra em Juazeiro que ela quer continuar a escrever sua história.

A realidade que o Programa Cisternas desenha para as famílias é possível graças à retomada, em 2023, dos investimentos na ação. Trata-se de uma política pública que assegura o direito de acesso a água.

PERSPECTIVA — À sombra de uma árvore no quintal de casa, na comunidade Arapuá Novo, a produtora rural Maria Sonia Oliveira espera com tranquilidade o período de chuvas na região, quando será possível captar a água, armazenar e, finalmente, utilizá-la. Os 60 anos de vida, completados no último mês, são morando sobre o mesmo chão de terra em Juazeiro. Maria Sonia recorda da época em que a família não tinha cisterna em casa.

“A primeira cisterna foi um sonho, quando a gente conseguiu, há quase 20 anos. Porque a gente tinha uma dificuldade enorme de carregar a água. Tinha que buscar água longe, colocar na cabeça, era um peso”, lembrou aliviada. “Agora, com essa outra, vai ser ainda melhor, porque é para produção”, disse, mirando o futuro.

A poucos quilômetros da propriedade em que Maria Sonia cria caprinos, a família de André Nascimento também tem na pequena agricultura o meio de subsistência. É da atividade no campo que o produtor colhe qualidade de vida para os três filhos. Ao lado da esposa, Márcia Cristina, ele enxerga no Programa Cisternas a chance de ampliar e otimizar a produção na área em que vivem.

Aos 43 anos, essa será a primeira vez que o agricultor vai manejar uma horta. “Vou plantar coentro, alface, tomatinho… Vai ser pra gente comer em casa, um alimento saudável, e se for possível, até ter uma rendinha extra pra família”, planeja André, com entusiasmo.

CAPACITAÇÃO — O assessoramento técnico para as famílias que atuarão com as cisternas de produção de alimentos, tem o papel de educar e dar suporte, para que a atividade seja executada com segurança. Dessa forma, Jamile, Maria e André são acompanhados por profissionais com experiência e que conhecem o potencial produtivo da região.

Nas comunidades rurais de Juazeiro, a assistência é feita pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA). “É um trabalho que fortalece a função da assessoria técnica, porque a gente conversa com eles, tira dúvidas e até ajuda a escolher qual atividade produtiva eles querem desenvolver”, explicou Andressa Menezes, técnica do IRPAA.

“A retomada do Programa Cisternas consolida o que nós defendemos, que é a convivência com o Semiárido. É um processo que integra a família, porque todos participam”, completou.

O desenho do programa beneficia todos os envolvidos, de uma ponta a outra, como é o caso do pedreiro Flávio Rodrigues, que nunca havia trabalhado na construção civil. Ele passou por uma capacitação, esse ano, e agarrou a oportunidade. Desde que assumiu a função, perdeu as contas de quantas cisternas já ajudou a construir.

“Quero aprender mais ainda, desde moleque tinha vontade de ser pedreiro, e quero aproveitar a oportunidade de trabalhar na área. A cisterna é um presente, eu só tenho a agradecer ao programa, à ASA, a todos”, declarou Flávio. Entre o início e a entrega, a construção de cada cisterna pode variar entre sete e 15 dias, em média.

A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) é uma rede que defende, propaga e desenvolve o projeto de convivência com o bioma. A entidade é composta por mais de três mil organizações da sociedade civil, como sindicatos rurais, associações de agricultores e agricultoras, cooperativas, organizações não governamentais e institutos, como o IRPAA.

AVANÇO — Ao resgatar o Programa Cisternas, em 2023, após longo período sem incentivos, o Governo Federal investiu R$ 600 milhões e contratou 62,7 mil unidades, sendo 58,2 mil para o Semiárido e as demais para a região Amazônica.

As tecnologias sociais de acesso à água são um importante equipamento para a convivência com as regiões, promovendo dignidade, saúde, segurança alimentar e melhores condições de vida. Além disso, pesquisas científicas mostram a importância desses sistemas na saúde de gestantes e recém-nascidos.

 

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