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Grafite muda a paisagem da W3 Sul

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Os 10 quilômetros de extensão da Avenida W3 Sul foram palco, nesse final de semana, da segunda etapa de intervenções de artistas do grafite contemplados no edital W3 Arte Urbana, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). A intervenção urbana nas paradas de ônibus, com 27 selecionados (44% de mulheres), começou nos dias 27 e 28 de novembro. Cada participante recebeu cachê de R$ 3 mil e kit com 20 sprays e uma lata de tinta para a base.

Douglas Retok conta que muitas vezes percorreu a W3 Sul em busca de um muro que servisse de suporte para sua arte | Foto: Daniel Marques/Secretaria de Cultura e Economia Criativa

“A Secec comprou meu trabalho. Isso é um motivo de orgulho para mim”, afirma Douglas Retok (Douglas da Silva Sousa), 27, grafiteiro desde os 14 anos, que ilustrou a parada de ônibus da Entrequadra 707/708 Sul. Pintor residencial e tatuador, ele entende o grafite como “arte que evoluiu da pichação” e se constitui num “resgate social” da prática.

“Esse é um projeto que se estende de uma revitalização do GDF para a W3 Sul, que, após essa ação, nunca mais será vista da mesma forma”Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia Criativa

Douglas define a W3 como “berço dessa arte” e narra que muitas vezes percorreu a avenida em busca de um muro que servisse de suporte para sua arte: “A gente chega e pergunta ao dono da loja, ‘tio, posso pintar seu muro?”, explica ele. Uma resposta positiva faz saltarem da surrada bolsa os tubos de spray e a fome de expressão. “Gosto desses trabalhos. Mantenho minha liberdade, meu estilo”, revela.

Na parada da 707/708, ele usa o tema “Viva a diferença!”, que serve de legenda para o desenho de uma fila de ônibus, na qual se observam idosos e jovens, homens e mulheres, brancos, pretos, pardos, numa alusão ao transporte público com sua diversidade em relação aos carros particulares.

Entusiasta do grafite, o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, fez questão de acompanhar o começo dos trabalhos na W3 Sul. “Esse é um projeto que se estende de uma revitalização do GDF para a W3 Sul, que, após essa ação, nunca mais será vista da mesma forma”.

A fala de Douglas ecoa o Decreto Distrital 39.174, de 2018, que instituiu a valorização do grafite como política de estado no DF e reconheceu, na diversidade e no caráter popular de arte, dois princípios que regem a iniciativa oficial, entre outros como promoção de identidades, de diversidade cultural brasileira, de territorialidade e pluralismo cultural, geração de renda.

Douglas mora no Riacho Fundo e exemplifica o esforço de descentralização no fomento ao grafite, trazendo para a Avenida W3 os enlevos criativos das regiões administrativas para além do Plano Piloto. O edital, em linha com o decreto, contempla artistas do Recanto das Emas, Guará, Ceilândia, Núcleo Bandeirante, Luziânia, Sudoeste/Octogonal, Arniqueira, Águas Claras, Santa Maria, Vicente Pires, Planaltina, além de cidades da Região Integrada de Desenvolvimento (Ride), como Valparaíso de Goiás, Luziânia e Novo Gama.

Na parada de ônibus da 504/505 (em frente ao Sesc), Nati (Naiana Mendes da Silva Alves) usa um rolo para espalhar um tom de laranja sobre a base acinzentada do muro. “Muito feia essa cor. Quero reproduzir esse céu lindo de Brasília de fim de primavera”, revela ela, mostrando o esboço, em papel, do que pretende.

“A Secec comprou meu trabalho. Isso é um motivo de orgulho para mim”Douglas Retok, grafiteiro

“Pintar para mim, aqui, é inédito”, conta Nati, que sempre apreciou “ler a rua” no trajeto de ônibus pela W3 de casa para o estágio, quando mais nova, fone nos ouvidos e pensamento nas imagens desorganizadas na paisagem urbana da avenida. “Minha cunhada não olha para o céu, acredita? Acha que é coisa de bicho grilo. Tem muita gente assim. Mas o grafite é autoritário. Te obriga a ver”. A pensar? Ela sorri, aprovando.

Do outro lado da avenida, em tons de azul, o companheiro de Nati, Soneka (Flávio Mendes Batista Alves), dá forma, no abrigo do ponto de ônibus (705/706), a um desenho mais intimista, enquanto toca no estéreo portátil o som metal do paulista Rodrigo Tomé Ozzi.

Tatuador, ilustrador, produtor de estampas para camisetas, Soneka compartilha o mesmo interesse de outros grafiteiros ouvidos por música, cinema, vídeo, fotografia. Ele acha que a população em Brasília já reconhece hoje o valor do grafite e reconhece o papel do poder público na mudança do cenário, que antes era o de reduzir tudo ao conceito de pichação e a reprimir.

História

Nzinga, 26, diz que usa a arte de raízes africanas “para fazer o resgate da ancestralidade”. Conta que seu nome artístico é inspirado na mítica rainha de Matamba (África, atualmente Angola). No século 17, essa mulher liderou matriarcado que combateu e venceu homens num contexto de guerras diante da crescente escravização de povos africanos pelos portugueses e outros brancos europeus.

Arte-educadora do coletivo Poesia nas Quebradas, de Planaltina, onde mora, ela enxerga na W3 uma enorme oportunidade de tornar mais conhecido seu trabalho. Deixa no painel seu Instagram para ser encontrada por quem se interessar, prática compartilhada por outros grafiteiros.

Luana acha tempo para fazer trabalho voluntário para a Gerência de Atendimento em Meio Aberto (ligada à Secretaria de Justiça e Cidadania/Sejus) de Planaltina, onde reside, e defende que o grafite pode possibilitar que adolescentes troquem armas por latas de spray e a morte violenta por uma chance de vida.

Em novembro, ela – que vive no corre para criar uma filha de dois anos – ministrou oficina de grafite para oito jovens entre 15 e 18 anos. “Eles dizem que faltam oportunidades culturais na vida deles. Vivem em vulnerabilidade e carecem de oportunidades. Acredito que o grafite pode mudar isso.”

Fonte: Governo DF

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Programa Cisternas avança e promove cidadania às famílias do Semiárido nordestino

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Nova etapa de execução é concretizada via convênio entre MDS e Consórcio Nordeste, no valor de R$ 311 milhões. Na área rural de Juazeiro (BA), os moradores estão otimistas com as novas possibilidades trazidas pelo acesso à água

No Semiárido nordestino, um sonho começa a ganhar forma. A retomada do Programa Cisternas vem enchendo a casa das famílias de esperança. Em meio às obras de uma cisterna para a produção de alimentos em sua propriedade, Jamile da Silva, 26 anos, faz planos para o futuro. A tecnologia de acesso à água, combinada com o recurso do Programa Fomento Rural, vai proporcionar a ela uma renda extra.

Essa cisterna vai me ajudar na atividade produtiva, vou saber que estou consumindo alimento saudável. E o Fomento vai me dar uma garantia de ter uma criação melhor, que eu preciso também, de caprinos e ovinos” Jamile da Silva, produtora rural

A produtora mora na comunidade Pau Preto, zona rural de Juazeiro, ao norte da Bahia. “O Programa Cisternas é perfeito”, definiu Jamile, sorridente. São mais de 42 mil cisternas contratadas, a partir de convênio entre o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e o Consórcio Nordeste. A parceria, formalizada em maio deste ano, contempla os nove estados nordestinos.

O investimento é de quase R$ 300 milhões do Governo Federal, por meio do MDS, e de outros R$ 12 milhões de contrapartida dos estados. O convênio prevê a instalação de 39 mil tecnologias de acesso à água para consumo humano e 2,89 mil sistemas para consumo animal e produção de alimentos. As famílias que recebem as cisternas para a produção de alimentos também são inseridas no Programa Fomento Rural, em um repasse de R$ 13,3 milhões pelo acordo.

Além de oferecer assistência técnica, o Fomento Rural transfere o valor de R$ 4,6 mil diretamente para os beneficiados. São grandes conquistas para Jamile da Silva, que pensa em alternativas de expansão produtiva, a partir do recurso, da cisterna concluída e da capacitação para trabalhar em novas culturas. Ela também quer melhorar as condições do local onde cria caprinos e ovinos, a começar pela construção de um teto para os animais.

“Essa cisterna vai me ajudar na atividade produtiva, vou saber que estou consumindo alimento saudável. E o Fomento vai me dar uma garantia de ter uma criação melhor, que eu preciso também, de caprinos e ovinos”, projetou Jamile, enquanto acompanha em detalhes o processo de construção da estrutura. Nascida e criada na zona rural, é nessa mesma terra em Juazeiro que ela quer continuar a escrever sua história.

A realidade que o Programa Cisternas desenha para as famílias é possível graças à retomada, em 2023, dos investimentos na ação. Trata-se de uma política pública que assegura o direito de acesso a água.

PERSPECTIVA — À sombra de uma árvore no quintal de casa, na comunidade Arapuá Novo, a produtora rural Maria Sonia Oliveira espera com tranquilidade o período de chuvas na região, quando será possível captar a água, armazenar e, finalmente, utilizá-la. Os 60 anos de vida, completados no último mês, são morando sobre o mesmo chão de terra em Juazeiro. Maria Sonia recorda da época em que a família não tinha cisterna em casa.

“A primeira cisterna foi um sonho, quando a gente conseguiu, há quase 20 anos. Porque a gente tinha uma dificuldade enorme de carregar a água. Tinha que buscar água longe, colocar na cabeça, era um peso”, lembrou aliviada. “Agora, com essa outra, vai ser ainda melhor, porque é para produção”, disse, mirando o futuro.

A poucos quilômetros da propriedade em que Maria Sonia cria caprinos, a família de André Nascimento também tem na pequena agricultura o meio de subsistência. É da atividade no campo que o produtor colhe qualidade de vida para os três filhos. Ao lado da esposa, Márcia Cristina, ele enxerga no Programa Cisternas a chance de ampliar e otimizar a produção na área em que vivem.

Aos 43 anos, essa será a primeira vez que o agricultor vai manejar uma horta. “Vou plantar coentro, alface, tomatinho… Vai ser pra gente comer em casa, um alimento saudável, e se for possível, até ter uma rendinha extra pra família”, planeja André, com entusiasmo.

CAPACITAÇÃO — O assessoramento técnico para as famílias que atuarão com as cisternas de produção de alimentos, tem o papel de educar e dar suporte, para que a atividade seja executada com segurança. Dessa forma, Jamile, Maria e André são acompanhados por profissionais com experiência e que conhecem o potencial produtivo da região.

Nas comunidades rurais de Juazeiro, a assistência é feita pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA). “É um trabalho que fortalece a função da assessoria técnica, porque a gente conversa com eles, tira dúvidas e até ajuda a escolher qual atividade produtiva eles querem desenvolver”, explicou Andressa Menezes, técnica do IRPAA.

“A retomada do Programa Cisternas consolida o que nós defendemos, que é a convivência com o Semiárido. É um processo que integra a família, porque todos participam”, completou.

O desenho do programa beneficia todos os envolvidos, de uma ponta a outra, como é o caso do pedreiro Flávio Rodrigues, que nunca havia trabalhado na construção civil. Ele passou por uma capacitação, esse ano, e agarrou a oportunidade. Desde que assumiu a função, perdeu as contas de quantas cisternas já ajudou a construir.

“Quero aprender mais ainda, desde moleque tinha vontade de ser pedreiro, e quero aproveitar a oportunidade de trabalhar na área. A cisterna é um presente, eu só tenho a agradecer ao programa, à ASA, a todos”, declarou Flávio. Entre o início e a entrega, a construção de cada cisterna pode variar entre sete e 15 dias, em média.

A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) é uma rede que defende, propaga e desenvolve o projeto de convivência com o bioma. A entidade é composta por mais de três mil organizações da sociedade civil, como sindicatos rurais, associações de agricultores e agricultoras, cooperativas, organizações não governamentais e institutos, como o IRPAA.

AVANÇO — Ao resgatar o Programa Cisternas, em 2023, após longo período sem incentivos, o Governo Federal investiu R$ 600 milhões e contratou 62,7 mil unidades, sendo 58,2 mil para o Semiárido e as demais para a região Amazônica.

As tecnologias sociais de acesso à água são um importante equipamento para a convivência com as regiões, promovendo dignidade, saúde, segurança alimentar e melhores condições de vida. Além disso, pesquisas científicas mostram a importância desses sistemas na saúde de gestantes e recém-nascidos.

 

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